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Esse trajeto pode ser feito hoje por oito turistas, em 25 dias, na companhia da guia Dorine Kunst, da agência de turismo de Roma, “Aventura no Mundo”, ao custo de 2500 euros por pessoa.

 

Exposição "Estrada da Seda". Foto: Divulgação

 

Ivy Fernandes, de Roma

A Rota da Seda era percorrida pelos chineses com longas caravanas que atravessavam a Ásia para vender mercadorias no Ocidente.

Artistas de rua, malabaristas e funâmbulos abriam  as caravanas  e atraíam grande público por onde passavam.  Artimanha em estilo circense para conquistar as pessoas e mostrar as mercadorias.  

A “Via della Seta” ou “Rota da Seda” foi o caminho percorrido durante  setecentos anos  de história (do século VII ao XIV) pelos  mercadores que cruzavam desertos, montanhas, rios e lagos com as caravanas que transportavam mercadorias para vender no  Ocidente. O transporte era feito por camelos. Uma estrada de 8 mil quilômetros, a rota de Marco Polo.

Essa aventura está na exposição recém-inaugurada  em Roma, no  Palácio  das Exposições, intitulada “Na  Estrada da Seda” (Sulla Via della Seta). Há mapas, objetos antigos, vestuário, tecidos, sedas preciosas, condimentos e perfumes da época, que compunham as  mercadorias que transitavam nos antigos percursos e que durante sete  séculos foi o único modo de intercâmbio  comercial entre a extremidade da Ásia e a da Europa.

 

Exposição da "Estrada da Seda", em Roma. Foto: Divulgação

 

A exposição foi organizada  com a colaboração  do Museu Americano de História Natural, sob os cuidados do estudioso  Mark Norell.

Na entrada da exposição, há três  camelos  de tamanho  natural,  beduínos  e objetos  que  serviam para a viagem.

Hoje, é possível fazer o trajeto real da Rota da Seda de maio a setembro, com Dorina Kunzt, holandesa que vive na Itália e é guia da agência de turismo de Roma Aventura no Mundo (Avventure nel Mondo).

 

A sedução da seda e o perfume de canela

 

Cerâmicas em um dos salões da exposição. Foto: Divulgação

 

Na exposição “Na Estrada da Seda” o visitante conhece 150 objetos, entre tecidos preciosos, mapas antigos, desenhos, quadros e cerâmica, Existem cenários reconstruídos, apresentados nos vários salões  da mostra, que destacam os habitantes que moravam ou circulavam nesse caminho da seda com suas diferenças de cultura e de concepção  da vida nos séculos VII a XIV. A cada um dos povos da região corresponde uma seção  específica na exposição, que reconstrói sua identidade e história.

As caravanas em direção à China transportavam ouro, marfim, coral, vidro, resina de âmbar e lã. As caravanas rumo ao Ocidente levavam também a resina laca, ferro, peles de animais, cerâmica, canela e objetos de bronze.

Quem abriu a Rota da Seda foi o navegante chinês Chang Ch’ien, no ano 138 a.C (antes de Cristo), enviado pelo imperador Wu-ti para as  distantes regiões  do oeste à procura de novos aliados militares.  Ele não conseguiu cumprir esse objetivo da missão, mas abriu uma nova estrada e, com ela, novos horizontes. Após alguns anos, os romanos descobriram a seda,  que  se difundiu rapidamente pelos palácios. O frágil e delicado fio de seda  serviu  para  unir dois grandes impérios.

 

Quatro cidades uniram o Oriente e o Ocidente

A exposição se divide em quatro seções, representados por cidades símbolos: Chang’han ( XI’AN):  parte da capital cosmopolita da dinastia Tang ( 618- 907 d.C.), localizada no centro  da planície central chinesa e conhecida pela tolerância  religiosa  e  sólida  estrutura administrativa. À epoca, era a cidade  com maior número de habitantes no mundo e  serviu de modelo  para a fundação  de outras capitais (como Kyoto).

“Na Estrada da Seda” apresenta relíquias  antigas, em XI´AN, como pequenas imagens que mostram camelos carregados  de  mercadorias, acompanhados  por  grupos  de  atores, músicos, artistas de rua, funâmbulos. As imagens são uma mostra do movimento da metrópole da qual partiam as  caravanas que iniciavam o  percurso rumo à velha Europa.

A exposição de Roma apresenta a reconstrução  de  um “telaio” (tear) antigo, que funcionava manualmente. Como eram coloridos, os fios que serviam para confeccionar os tecidos de seda no Oriente eram muito  procurados e bem cotados no Ocidente. 

 

A seção TURFAN

Trata-se de um ambiente com atmosfera  mágica de cidade-oásis no deserto de  Gobi. Servia de fonte para  abastecer os animais e caravanas e se tornou um dos  grandes centros  comerciais na Rota da Seda. Ela estava situada  ao norte na rota que circunda  o terrível deserto Taklamakan. Pode-se  admirar a reconstrução  fiel de  um “karez”, ou seja,  o elaborado sistema de irrigação  que permitia aos viajantes dar conta  da importância  dessa invenção,

A invenção levou à transformação de outros pequenos oásis  em centros  urbanos, vizinhos de  terrenos utilizados para  a agricultura.

 

Mapa mostrando a cidade Samarcanda. Foto: Divulgação

 

Seção Samarcanda 

Samarcanda era o centro da civilização Sogdian, que tinha língua própria, localizada  entre o atual Uzbekistan e Tajikistan, conforme mostra o mapa acima, onde se podiam encontrar artigos de luxo e divertimento. Samarcanda era ponto de encontro vital para culturas distantes. 

A exposição destaca como a utilização do papel tornou possível, àquela época, conservar a documentação  de transações comerciais e a transmissão de textos  sacros. 

Ao fundo a sala da cidade Bagdad, na exposição. Foto: Divulgação

 

Tesouros de Bagdá

Bagdá foi fundada em 762  d.C. (depois de Cristo), na margem ocidental  do rio Tigre. Foi capital  dos califas da dinastia árabe  dos Abbaside, do século VIII ao século XIII  (750 a 1258 d.C). No final do século VIII, Bagdá  era o centro intelectual do mundo  islâmico  e ondem se desenvolviam pesquisas nos campos das ciências, literatura e tecnologia. Um exemplo do alto nível da técnica  artesanal  alcançada, à época, é a produção  de  preciosos objetos de vidro. Uma das peças apresentadas na exposição é um vaso de vidro de cor turquesa, com esmalte  “cloisonné” em ouro, provavelmente, do século IX ou X. . 

Vaso de vidro, na cor turquesa, com esmalte em ouro (séculos IX e X). Foto: Divulgação

 

Rota da Seda

A última parte da  mostra é dedicada ao comércio marítimo da Rota da Seda. De Bagdá, as estradas se dividiam: ao sul, prosseguiam as  caravanas em direção  ao  Golfo Pérsico; a oeste, caravanas seguiam pela Síria e alcançavam o Mar  Mediterrâneo. Mudanças políticas e progressos tecnológicos levaram ao desenvolvimento do comércio marítimo – então, o mais rápido e seguro. Entre os séculos  IX e X,  o transporte  marítimo  foi  intensificado  e  as mercadorias iniciaram sua trajetória pelo mundo a partir da costa  meridional  da China.

Réplica do navio que transportava mercadorias para o Ocidente. Foto: Divulgação

 

Nessa  área  da exposição se encontra  a perfeita  réplica de  um navio que servia  para  transportar  as  mercadorias, algumas em  enormes  recipientes de cerâmica, onde eram conservados os temperos de sabor exótico, muito apreciados no Ocidente. Alguns navios não conseguiam superar as  tempestades na longa travessia e naufragavam, deixando  no fundo do mar  verdadeiros tesouros.

 “Na Estrada da Seda” é uma das exposições  mais  bonitas  e completas  organizadas na Itália e estará  aberta até 10 de março  de  2013.

 

Dorine Kunst, guia da atual travessia da "Estrada da Seda". Foto: Divulgação

 

Viaje pela Rota da Seda com a guia Dorine

Dorine Kunst,  holandesa, residente  na Itália, faz  parte  do  grupo de coordenadoras especializadas  da agência Aventura no Mundo, que guia grupos de turistas, de, no máximo, oito pessoas, ao percorrer  8 mil quilômetros  de uma travessia fascinante: a “Estrada da Seda”.

Expedição na China do "Rota da Seda". Foto: Divulgação

 

A viagem precisa ser preparada com antecedência porque é necessário  ter visto para entrar na China. A expedição parte da  Itália  (Roma ou Milão)  com voo até  Pequim. São cerca de 15 horas de viagem. De lá, o passeio prossegue  por terra todo o itinerário. Durante 25 dias, o grupo percorre a antiga Rota da Seda e entra em contato direto  com   a população   de  várias regiões. Assim conhece  de perto  a vida e os costumes de povos milenares.

Cena de cotidiano na China. Foto: Divulgação

 

Em Roma, o site Panis & Circus conversou com  Dorine Kunst para  saber sobre a  profissão de guia nessa aventura.

Dorine disse que o pai dela era  um diplomata  holandês. “Cresci viajando muito para os Estados Unidos, México, Japão, Europa Oriental, Israel e Inglaterra.  Sinto-me  uma  cidadã  do mundo e não tenho receio de conhecer  culturas  diversas. Ao contrário, elas  me atraem e aprendo  cada  dia  uma coisa diferente.”

Dorine conta que estudou antropologia  na Universidade  de  Berkeley, na Califórnia,  onde  se formou, aos 20 anos. Durante um tempo cursou  jornalismo e, aos 32 anos, decidiu  mudar para  a Itália  para viver na cidadezinha de Perugia, a poucos quilômetros  de Roma, onde já  morava a mãe dela. Dorine cursou a Universidade para Estrangeiros de Perugia.

Ela conta que trabalhou  em hotéis  como  diretora  e também  na área  do turismo. “Comecei a viajar para terras distantes da África e da Ásia  entrando em  contato com alguns povos primitivos na Nigéria. Visitei 48 países. Há 16 anos  trabalho com a agência  Aventura no Mundo, como coordenadora responsável.”

Dorine  fala cinco  idiomas. Atualmente tem também uma agência  de  traduções do  italiano  para o inglês, o francês, o alemão e o holandês. Na entrevista abaixo

 

Aventura na Rota da Seda

Circus – Dorine que tipo de  turista  escolhe a viagem pela Rota da Seda?

Dorine – Pessoas curiosas, sem receio e sem medo,  que  querem percorrer estradas antigas, ter contato com povos distantes, conhecer civilizações  diversas, deixando  em casa os preconceitos. As pessoas que sentem a vida  como uma forma de aventura constante e interpretam a viagem como  uma forma de investimento pessoal.

 Circus: É  necessário  certificado médico e ter saúde de ferro?

Dorine – Não  pedimos nenhum certificado médico, mas  é necessário ter boas condições  físicas  para  enfrentar o percurso sem problemas. É necessário  ter grande  senso  de  adaptação, flexibilidade  e não  ter medo  das  dificuldades. O grupo, normalmente  de oito pessoas, cinco mulheres e três  homens,  deve ser  bem entrosado. É importante também não carregar malas pesadas, somente  o mínimo   indispensável   para  atravessar  vários  tipos de clima.

 Circus – Como é o itinerário?

Dorine – Após chegar a Pequim, ficamos quatro dias lá para  descansar do longo voo, visitar a cidade e nos organizarmos. A seguir,  partimos, à noite, de  trem, em direção ao oeste. O total do percurso por terra são  4 mil quilômetros,  até a cidade de Bishkek, capital de Kyrgystan, passando  pelo passo de Tourgart Pass, a 3.750 metros de altura, trajeto fantástico, com caminho circundado por  montanhas espetaculares.  Em cada estação há sempre  uma caminhonete  nos esperando  para  levar  ao  hotel ou  pousada e para visitar  os museus  e os pontos de maior atração  turística   da área.

Os hotéis  são  simples e confortáveis. Para alimentação, procuramos  produtos  locais, em restaurantes ou botequins.

Durante uma parte da viagem, prevalece a cozinha chinesa, com arroz, verdura, pastéis de legumes. Na outra parte, é a cozinha muçulmana que vigora, com  produtos locais. Devemos sempre  tomar água mineral, refrigerante em lata e lavar continuamente as mãos.

Circus: Qual a etapa mais  difícil?

Dorine – Algumas etapas da viagem  são  longas, mas o cansaço  é superado pela  beleza  da paisagem, que o turista admira  da janelinha do trem.

A parte final da viagem sai de Kashgar e vai até Naryan, em Kyrgystan  (passando pelo passo de Tourgart), percorrendo o total de 260  quilômetros   em uma  estradinha  acidentada,  que leva dez horas de duração. Mas o cenário  é  fantástico, circundado  pelas montanhas altíssimas  da cadeia Tian Shan. Os turistas ficam tão  fascinados pela paisagem que o tempo passa  depressa.

 Circus – Onde se  dorme, no trem ou em tenda?

Dorine – Durante  seis noites, os turistas dormem  nos trens  para  atravessar de uma cidade a outra. São  cabines simples, mas confortáveis, e, é claro, precisa ter senso de  adaptação. Uma noite dormimos  também  na tradicional Yurta,  tenda  utilizada na  Mongólia, à margem do Heavenly Lake: uma experiência  fantástica.

Modelo da tenda Yurta, utilizada pela população da Mongólia

 

Circus –  O preço da aventura é alto? 

Dorine – Tudo custa cerca 2.500 euros por pessoa, incluindo o voo  Itália -Pequim,  porque dividimos o custo em duas partes: 1.600 euros é o preço da  viagem em si, entre transporte e hotéis, e 900 euros é o valor para o caixa comum, ou seja,  alimentação , ingresso em museus, visitas em templos. Levando em conta  que são 25 dias, não é uma viagem cara. Quem sabe alguém do Brasil não quer partir comigo em 2013?

 

 

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