Segunda-feira: 10/12/2018
Globo.com – Fabricio Queiroz: 100 horas mudo
Constatação: decorridos quatro dias e meio após a revelação do relatório do Coaf, que aponta “movimentação atípica” em suas contas, Fabrício Queiroz continua mudo.
Não deve, portanto, estar sendo fácil para o ex-motorista de Flavio Bolsonaro arrumar uma explicação plausível para ter movimentado R$ 1,2 milhão no prazo de doze meses.
Assim como os Bolsonaro (e seus bolsominions) estão na defensiva pela primeira vez desde o início da campanha eleitoral.
Segunda-feira: 10/12/2018
Rede TV – Blog Reinaldo Azevedo – CUBANOS DE BOLSONARO?
1: Aposta de eleito e filhos é que imprensa e opinião pública vão esquecer caso do motorista de R$ 1,2 milhão
A aposta dos Bolsonaros — do pai, Jair, e dos filhos, Flávio em particular, é que o assunto da movimentação financeira de Fabrício Queiroz, ex-motorista e segurança do senador eleito da família, acabe morrendo, caindo no esquecimento da população e da imprensa. Queiroz movimentou, como se sabe, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017 mais de R$ 1,2 milhão. Neste domingo, o presidente eleito voltou a se referir ao assunto e afirmou que é o ex-assessor de seu filho quem tem de das explicações. Indagado se via a coisa toda com naturalidade, afirmou o presidente eleito: “Ele tem que explicar, pode ser, pode não ser”. Mas tentou minimizar a coisa, sugerindo tratar-se de pequenos valores transacionados entre pessoas próximas e familiares: “Um ao longo de um ano transferiu 800 reais. O outro transferiu 1.500 reais, poxa.”
2: Família precisa se livrar da suspeita que de que mantinha relação à moda cubana com funcionários
Bem, as explicações, até agora, são muito fracas, e a família Bolsonaro precisa eliminar a desconfiança de que vigora entre os funcionários…
3: É claro que a suspeita é a de que família fica com parte do salário dos seus funcionários
Tanto o presidente eleito, Jair Bolsonaro, como seus filhos estão fazendo um esforço danado para que o imbróglio envolvendo Fabrício Queiroz, o ex-motorista de Flávio, não se pareça com aquilo que se parece: a suspeita óbvia é a de que Queiroz fosse um arrecadador, para a família Bolsonaro, de salário dos funcionários do agora senador eleito. E, por óbvio, sobra o questionamento se a prática não seria uma constante nos respectivos gabinetes dos quatro políticos: além de Jair e Flávio, também Eduardo e Carlos. Uma coisa e certa: a prática do motorista, amigo pessoal do presidente eleito, pode ser considerada tudo; corriqueira não é. Até porque a família inteira do ex-assessor, mulher e duas filhas, está enredada no caso.
4: Nada menos de 9 funcionários de Flávio depositaram R$ 184 mil na conta de motorista, incluindo mulher e duas filhas
Ora, nada menos de nove assessores de Flávio Bolsonaro depositaram dinheiro na conta de Queiroz, somando, em um ano, R$ 184 mil. Desse total, pouco mais de R$ 84 mil saíram da conta de Nathalia, uma de suas filhas, que estava lotada no gabinete de Flávio e depois foi transferida para o de Jair. No mesmo dia, 12 de junho de 2016, Evelyn, a irmã, foi nomeada. Nos seis dias seguintes, os saques em dinheiro da conta de Queiroz, o pai das duas, chegaram a R$ 58 mil. Além das filhas e da mulher — Márcia Oliveira Aguiar — repassaram dinheiro ao motorista os seguintes funcionários: Agostinho Moraes da Silva, Jorge Luís de Souza, Luiza Souza Paes, Raimunda Veras Magalhães, Wellington Rômulo da Silva e Marcia Cristina Nascimento dos Santos.
5: Presidente eleito diz que prática de empréstimos é comum em quartel e imprensa. Em imprensa, não é!
No sábado, Jair Bolsonaro tentou ver a coisa toda com naturalidade. Disse: “Se você pegar teu ciclo de amizade na imprensa, num quartel, num hospital, é normal entre aqueles funcionários um ajudar o outro, é normal acontecer isso daí. E não foi diferente na Câmara, na Assembleia Legislativa. A gente se socorre de gente que está ao lado e não de terceiros. Natural”.
Bem, não sei como é num quartel ou num hospital. Na imprensa, não é comum acontecer, não. Até porque, né?, se jornalista pretende ser bem-sucedido tomando empréstimo de amigo, o negócio é pescar em águas de outra categoria: a chance de pedir a um colega ainda mais duro do que ele próprio é razoável. Não! Bolsonaro fale, então, pelo quartel… Na imprensa, não é assim, não. E, quero crer, motoristas não atuam como bancos informais em nenhuma categoria.
6: Tom de membros da família é mais cordato e cuidadoso do que o de Onyx, que pega uma carona no caso
O tom dos Bolsonaros em relação ao assunto, no entanto, está muito menos estridente e mais cuidadoso do que o empregado na sexta por Onyx Lorenzoni, que resolveu ter um chilique quando indagado a respeito, misturando, note-se, a investigação prévia de que ele próprio é alvo — acusado por delatores da JBS de recebimento de dinheiro por meio de caixa dois — com as suspeitas que recaem sobre a família do presidente eleito. Como havia sido ameaçado por Bolsonaro com a BIC da demissão, parece que Onyx lembrou ao chefe que todos, agora, estão no mesmo barco.
7: Transferir dinheiro lícito não é crime, claro! MPF vai decidir se pede abertura de inquérito
A questão, por enquanto, é mais política do que jurídica ou policial. Não é proibido transferir dinheiro para a conta de terceiros, não importa se a pessoa é motorista, presidente, assessor parlamentar ou camelô das insatisfações alheias. Só que esses recursos não podem ser oriundos de atividades ilícitas ou obtidos de forma fraudulenta. A eventual transferência de uma parcela do salário de funcionários de um deputado federal, estadual ou vereador para o titular do mandato constitui crime. Por enquanto, está caracterizado o que pode ser chamado de “acontecimento estranho”, acompanhado de “notáveis coincidências”. O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) não acusa ninguém de nada porque não é a sua função. A bola, agora, estará com o Ministério Público Federal. Caso o órgão determine a abertura de um inquérito policial, certamente aqueles nove funcionários, incluindo os três membros da família de Fabrício Queiroz, serão chamados a prestar depoimento.
8: Ex-mulher acusou agora presidente eleito de ocultar patrimônio e renda; depois fizeram as pazes; levantamento da Folha aponta patrimônio registrado de R$ 13 milhões
Uma nota: em processo de 2008, Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Bolsonaro, o acusou de ocultação de patrimônio em sua declaração oficial de 2006, quando foi candidato a deputado federal (e venceu). À Justiça Eleitoral, declarou bens no valor de R$ 433.943,00 mas Ana anexou uma relação de bens e de imposto de renda que somava um patrimônio real de R$ 4 milhões em valores da época. Ana também alegou no processo que a renda do deputado superava, então, os R$ 100 mil mensais, apesar de a soma de suas rendas conhecidas como deputado e militar da reserva ser de R$ 35.300. Não ficou clara a origem do resto do dinheiro. Ela acusou ainda o ex-marido — os dois fizeram as pazes depois — de ter furtado US$ 30 mil e mais R$ 800 mil (R$ 600 mil em joias e R$ 200 mil em dinheiro vivo) de um cofre em uma agência do Banco do Brasil, caso registrado em boletim de ocorrência no mesmo dia do furto (26 de outubro de 2007). Alberto Carraz, gerente do BB e amigo de Bolsonaro até hoje, confirma apenas que o conteúdo sumiu. Levantamento feito pela Folha no ano passado evidencia que os bens que estão em nome de Bolsonaro e de seus filhos chegam, em valores de mercado, a R$ 13 milhões.
Segunda-feira: 10/12/2018
Folha de S.Paulo – Onyx conduziu depoimento do Coaf em CPI sobre mensalão
Leandro Colon
Futuro ministro questionou papel do órgão no esquema investigado no governo Lula
“A pergunta é: onde é que estava o Coaf no mensalão?”, questionou Onyx Lorenzoni antes de abandonar entrevista na sexta (7) ao se irritar com a insistência dos repórteres para que comentasse as suspeitas sobre a movimentação financeira do motorista de Flávio Bolsonaro, filho do presidente eleito.
Falta memória ao futuro ministro da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro. As notas taquigráficas do Congresso podem ajudá-lo a recuperá-la. Às 10h21 do dia 10 de janeiro de 2006, uma terça-feira, foi aberta uma sessão da CPI dos Correios para ouvir o então presidente do Coaf, Antônio Gustavo Rodrigues.
Criada no ano anterior, a comissão parlamentar investigou o esquema do mensalão do governo Lula.
O deputado Onyx era o sub-relator de Normas de Combate à Corrupção e conduziu o depoimento do presidente do Coaf naquele dia, na sala 2 da ala Senador Nilo Coelho, no Senado. Foi o primeiro a indagá-lo sobre a atuação do órgão de controle financeiro do governo federal.
Onyx, aliás, agradeceu Rodrigues, em nome da CPI, pela presença. Depois de uma longa fala, o deputado perguntou sobre normas do Banco Central, eventuais falhas de fiscalização financeira e o alcance do Coaf.
Rodrigues detalhou o modelo de trabalho do órgão e seus limites de ação, sobretudo em relação a investigações em torno de uma transação considerada atípica. “Se você não tem outros elementos que circunstanciem aquela movimentação, diria que é praticamente impossível você chegar a identificar tudo”, disse.
No depoimento de quase seis horas, ele contou aos parlamentares que desde 2003 o Coaf recebia informações de volume grande de saques em espécie por parte da SMPB, empresa de Marcos Valério, o operador que abasteceu o mensalão pago a políticos da base do governo petista.
Ofícios do Coaf entregues à CPI mencionam essas e outras retiradas. Foram informações essenciais para a investigação. Onyx pode ler mais sobre elas na página 764 do volume 2 do relatório final da comissão.
Segunda-feira: 10/12/2018
Folha de S.Paulo – Bolsonaro queima a largada
Celso Rocha de Barros
Depósito de assessor dispara todos os alarmes de quem investiga corrupção
A verdade é que ninguém estava pronto para um escândalo desses já agora.
Acabamos de sair da pior campanha eleitoral de nossa história, e mesmo os derrotados da eleição estavam aproveitando a trégua para respirar e se reorganizar. A maioria dos eleitores brasileiros votou em Bolsonaro, e, como convém a maiorias eleitorais no mês entre a eleição e a posse, ainda se permite ter esperança com o novo governo. Em não se tratando de reeleição, alguma lua de mel sempre é concedida ao recém-eleito.
Até porque, qual a probabilidade de aparecer uma denúncia de corrupção quente, antes da posse, que não tenha aparecido na campanha?
Pois é.
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou que Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador recém-eleito Flávio Bolsonaro, movimentou em 2016 e 2017 muito mais dinheiro do que poderia, plausivelmente, ter ganho com suas fontes de renda conhecidas. Entre os vários depósitos suspeitos feitos por Fabrício, R$ 24 mil para Michelle Bolsonaro, nossa nova primeira-dama.
O presidente recém-eleito, aparentemente, achou que ainda não estava suficientemente envolvido no escândalo e resolveu dizer que ele, Jair Bolsonaro, emprestou dinheiro para Fabrício Queiroz e que o depósito para a primeira-dama seria pagamento do empréstimo.
Olha, sinceramente, se era para inventar um negócio desses, era melhor ter pedido ajuda ao Olavo. Ele teria contado que Queiroz era do Foro de São Paulo, que o dinheiro havia sido roubado por George Soros usando a Lei Rouanet, que Bolsonaro nasceu no Quênia, enfim, algo que tampouco nos convenceria, mas, ao menos, nos manteria entretidos.
Assessor de político depositando dinheiro para a família do chefe é o tipo de coisa que dispara todos os alarmes de quem investiga corrupção. Na mesma hora em que as denúncias foram publicadas, por exemplo, o cientista político Sérgio Praça lembrou do caso do esquema de distribuição de dinheiro de PC Farias no governo Fernando Collor.
E, falando em gente que investiga corrupção, o que Sergio Moro pretende fazer? O novo ministro da Justiça não poderá continuar evitando perguntas sobre o assunto, e é bem ruim que as tenha evitado até agora.
Se um acusado da Lava Jato, sentado no banco dos réus, contasse essa história do empréstimo, Moro acreditaria?
Os bolsonaristas sabem que sofreram um golpe duro. Excepcionalmente, a bolsosfera calou-se. Afinal, o pessoal precisa manter sua credibilidade, e a tese do empréstimo de Bolsonaro para Fabrício não é tão plausível quanto, digamos, a história de que Haddad distribuiu mamadeiras com bico de pênis nas creches de São Paulo.
Por um lado, é terrível para o governo Bolsonaro que sua imagem de honestidade tenha trincado já na saída. É um governo eleito na onda da Lava Jato, um governo com Sergio Moro no Ministério da Justiça. É muito ruim que tenha sido pego fazendo uma operação com tanta cara de centrão.
Mas também é verdade que o clima de ressaca pós-campanha não favorece o tipo de onda de opinião pública que, com essa denúncia na mão, em outro momento, poderia ameaçar um mandato.
De qualquer forma, é melhor que Bolsonaro tenha como sustentar seu governo em mais do que sua reputação de incorruptibilidade. Mês que vem começa o ajuste econômico.