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Luciana Menin, Cafi Otta e Manoela Rangel em “Jucazécaju”/Fotos Paulo Barbuto/Divulgação

Saltos de ponta-cabeça, cambalhotas no ar e voos em monociclo e trapézio baixo são brincadeiras em “Jucazécaju”

Num tronco sem folhas, duas jacarés fêmeas dormem, num picadeiro redondo de cimento que faz de conta que é charco. Elas se movimentam com gestos lentos, mas súbitos, típicos desses répteis crocodilianos nas lagoas rasas, de olhos parados, semissubmersos na água.

A coreografia, proposta por Adriana Telg e realizada com charme pelas atrizes Luciana Menin e Manoela Rangel, chama a atenção pela graça com que imita os movimentos dos bichos.

Os personagens têm figurinos de rabos compridos e escamosos, listras vermelhas e braços listrados amarelos-e-marrons.

No conjunto a indumentária possui o tom dos jacarés, que se assemelha à cor dos rios lentos de seu próprio ambiente. O figurino e o cenário são de Marco Lima.

Jacarés e crocodilos são encontrados em todas as regiões mornas do mundo, nos pântanos e também em corredeiras e estuários.

Carla Candiotto, em entrevista ao site Panis & Circus, disse que representou os tocos de árvore lisos, caídos no charco, para tornar presente a destruição das matas e florestas brasileiras.

Ao mesmo tempo são o aparelho para os atores equilibristas realizarem seus fantásticos números aéreos. Também nas cenas fora d’água, as personagens das atrizes Luciana Menin (do Circo Zanni) e Manoela Rangel são ágeis, correm e pulam corda imitando os hábitos dos jacarés, que vivem dentro e fora da água.

 

Manoela Rangel, Cafi Otta e Luciana Menin em “Jucazécaju”

 

A graça do espetáculo está em vários momentos do enredo, que conta a história dos amigos jacarés Jeca, Jaca e Jucazécaju, quando são surpreendidos por dois caçadores na floresta.

O jacaré Juca anda de monociclo – sem errar uma! – e descobre depois que é um dragão. “Ele abre as asas, dá impulso, sente o vento” e voa no monociclo. O personagem é interpretado por Cafi Otta, do grupo Namakaca.

A vida é cheia de brincadeiras na floresta de árvores de onde saem a própria iluminação, em recurso inteligente na iluminação de Wagner Freire.

O ritmo musical da trilha de Hélio Ziskind e Ivan Rocha marcam as cenas e a narrativa segue atraente.

Na cenografia também o passar do tempo é efeito de destaque, que esclarece a narrativa para a criança pequena, espectador alvo de “Jucazécaju” – a recomendação da peça é para o público de três a oito anos. Um imenso sol levanta e se põe na sucessão cronológica dos acontecimentos.

Os amigos viajam de barco, atracam a embarcação e fazem estripulias aéreas, representando o momento de ancorar, de partir, os tropeços nas corredeiras, a pescaria. Mas eis que chegam os caçadores…

 

Dragão (Cafi Otta) captura caçadores (Manoela Rangel e Luciana Menin) em cena de “Jucazécaju”

 

A segunda parte do espetáculo encena a expedição e o acampamento deles. Luciana Menin atua com mestria, usa jogos de palavras que fazem todo mundo rir e repete o bordão de caça aos jacarés: “Vou fazer colar, sapato, cinto e ficar rico, e muito bonito!”.

Os caçadores são uma dupla de palhaços em que um deles é subserviente ao outro. Luciana Menin é o mandão, cheio de bússolas, GPS, lanternas. Manoela Rangel tem sotaque português e obedece de forma atrapalhada e engraçada a tudo que ordena o caçador-palhaço representado por Menin.

Seu fraco de fazer xixi toda hora arranca gargalhadas da plateia, que acompanha a musiquinha que Rangel canta várias vezes até que o líder manda parar: “Bermudas ‘lamberdual’, você vai ficar sequinho, você vai ficar legal!”.

A terceira e última parte da peça traz o final da caçada e a metamorfose do jacaré macho em dragão, com mais acrobacias circenses. O personagem de Cafi Otta bate as asas de modo bem divertido enquanto se equilibra em uma roda só, no monociclo.

 “As Asas de Crocodilo”, livro de Gilles Eduar, inspirou a peça “Jucazécaju”, adaptada por Rodrigo Matheus (Circo Mínimo) e Carla Candiotto (cia. La Plat Du Jour), que assina a direção.

Carla Candiotto integra a equipe de comediantes do programa “Saturday Night Live” (Rede TV) e tem a cia. Le Plat du Jour com Alexandra Golik.

A diretora e atriz Candiotto é ganhadora dos prêmios FEMSA 2011 pela direção de “Histórias por Telefone” e APCA 2011 por “Histórias por Telefone”, “A Volta ao Mundo em 80 Dias” e “Sem Concerto” (Circo Amarillo) na categoria de Melhor Direção. Matheus é ator e o fundador da cia. Circo Mínimo.

(Mônica Rodrigues da Costa)

 

Serviço

Em cartaz no Teatro Alfa até 15/07. Link: www.teatroalfa.com.br/?q=node/246

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