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Marina Bombachini e Carlos Cosmai, em “Íntimo” / Foto Asa Campos

 

Bell Bacampos, da Redação

No compasso de batimentos cardíacos, um casal vestido – calças e blusas de mangas compridas – e descalço – dão voltas e voltas em torno de um círculo. Sobre voltas na roda viva.  

Depois, de olhos vendados, a mulher tateia com as mãos o rosto e o corpo do homem e vice-versa. Um ‘mano a mano’ (mão a mão) em busca do conhecimento do parceiro da acrobacia e da vida. 

 

"Íntimo" estreou no Sesc Belenzinho / Foto Asa Campos

 

De olhos bem abertos, andam de mãos dadas e riem – um barulhinho bom – como usual no primeiro encontro amoroso em que tudo tem graça.

 

Risadas como em brincadeira de criança / Foto Asa Campos

 

Em dado momento, ele fica sozinho em cena, dá cambalhotas sem parar, cai e fica deitado no chão, exausto. Ela tenta levantá-lo, mas qual o quê, ele é pesado. Resolve entrar por debaixo dele e como se seu corpo fosse uma alavanca o vai suspendendo até determinado ponto. Mas não o sustenta por muito tempo e o corpo dele volta a se estatelar no palco. Ela não desanima e acaba por colocá-lo em pé e acabam de braços abertos.

 

Dois acrobatas com braços abertos / Foto Asa Campos

 

O casal volta a colocar as vendas e balança em busca de um ponto de equilíbrio. Agora, é ela quem parece perder o equilíbrio e é ele quem não a deixa cair. 

Em uma analogia precisa de movimentos que mostram os altos e baixos da vida cotidiana, de corpos e mentes que se conhecem e atuam em sintonia. 

 

Acrobacia no cotidiano do casal / Foto Asa Campos

 

Sentada no meio do círculo, sozinha, quase sem falas, ela declama versos: “na nossa casa amor-perfeito é mato. A nossa casa é de carne e osso. Não precisa esforço para namorar. A nossa casa não é sua nem minha. Não tem campainha para nos visitar. A nossa casa é onde a gente está”. Esses versos fazem parte de uma canção composta, entre outros, por Arnaldo Antunes. 

 

Equilíbrio no ar / Foto Asa Campos

 

Em dado momento, eles se desnudam. Tiram calças, blusas e camisetas e ficam de peças íntimas brancas em cena e fazem acrobacias aéreas e no chão. 

 

De peças íntimas, o afeto no olhar / Foto Asa Campos

 

Cada sentimento ou sensação corresponde a um movimento, feito com a precisão característica dos dois acrobatas: Marina Bombachini e Carlos Cosmai – que se destacam no cenário nacional pela pesquisa da técnica do mão a mão.

 

Intimidade acrobática em cena / Foto Asa Campos

 

“Íntimo” é um espetáculo que desnuda o cotidiano artístico e amoroso dos acrobatas e estreou no Sesc Belenzinho, em quatro apresentações – de 27 a 30/10 – dentro da Mostra de Repertório da Cia. LaMala, criada por Marina e Cosmai.  

Em entrevista ao Panis & Circus, após o espetáculo, Marina Bombachini afirma que “a gente quis expressar e expor a relação afetiva e profissional sem interpretações”. A verdade em cena. 

 

Cosmai suspenso no ar sob olhar de Marina / Foto Asa Campos

Para o diretor do espetáculo, o ator e diretor Bruno Rudolf, os dois acrobatas queriam colocar no palco-picadeiro a intimidade, sem subterfúgios, e eu “abracei a ideia – ainda mais por ter familiaridade com a linguagem circense”. 

Pelo toque, os dois acrobatas conseguem sentir o estado de espírito do outro, “e essa sensibilidade é compartilhada com o público”, acrescenta Rudolf.

 

Cosmai sustenta Marina na cabeça / Foto Asa Campos

 

A trilha sonora é de Rodrigo Zanetti – que acompanha com o seu piano todo o andar do espetáculo. Ele explica ao Panis & Circus que “com a ajuda de Bruno (diretor do espetáculo) fui mapeando cada uma das faixas para atender o que os atores/acrobatas (Marina e Cosmai) queriam passar para a plateia.”

“Íntimo” é um espetáculo sensível em que as emoções são desvendadas, os saltos acrobáticos contornam a mesmice do cotidiano e o mão a mão do afeto se mostra verdadeiro com sexto sentido.        

 

Acrobatas em cena no final de "Íntimo" / Foto Asa Campos

 

 

Mostra de Repertório da Cia LaMala 

A Mostra de Repertório da Cia LaMala, que contou com os espetáculos “Íntimo”, “Playground – uma pequena comédia humana” e “Fábrica de Brinquedos”, foi apresentado de 15 a 30 de outubro no Sesc Belenzinho. 

 

"Playground - uma pequena comédia humana", direção: Lu Lopes/ Reprodução Folheto Sesc

 

Em “Playground – uma pequena comédia humana”, apresentado em 15 e 16/10, os artistas protagonizam duas crianças e apresentam situações de amizade, desentendimentos e reflexões sobre questões existenciais. Mistura aparelhos e técnicas tradicionais de circo, como báscula e mão a mão, a acrobacias e equilíbrio com objetos não convencionais, informa o texto do Sesc Belenzinho. 

Direção: Lu Lopes 

Elenco: Carlos Cosmai (acrobata e equilibrista) e Marina Bombachini (acrobata)

 

"Fábrica de Brinquedos", direção: Marcelo Lujan / Foto Ligiane Braga - Folheto Sesc

 

Em “Fábrica de Brinquedos”, apresentada em 22 e 23/10, a Cia LaMala cria o ambiente de um laboratório – local onde são criados brinquedos e mecanismos que os animam. Um inventor maluco, seus brinquedos inusitados e uma boneca que tem vida, e surpreende até mesmo seu criador, todos interagem de maneira lúdica, mágica em busca do imaginário infantil. O inventor dessa fábrica – quando cria mecanismos que animam os brinquedos doa a eles a alma que encanta a criança. 

Direção: Marcelo Lujan 

Elenco: Marina Bombachini e Carlos Cosmai

 

 

Postagem – Alyne Albuquerque

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