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Manifestação em Paris contra a presença de animais no circo / Divulgação

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Ivy Fernandes, de Roma 

A França anuncia o início de um processo que visa proibir o uso de animais selvagens em circos e em parques temáticos. A decisão do governo francês foi anunciada pela ministra da Transição Ecológica, Bárbara Pompili, durante a Convenção da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

Entre os 29 países da União Europeia, 20 já limitaram ou proibiram a apresentação de animais. “Tudo vai mudar, devagar, mas vai mudar”, informou o governo francês.

Na Europa, entre grandes e pequenas companhias circenses, cerca de 300 utilizam animais em seus espetáculos.

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Ministra Bárbara Pompili: proibição de animais em circos franceses / Divulgação

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“É o momento para que nossa atração ancestral por esses seres selvagens não se transforme mais em situações de cativeiro nos parques ou trabalho forçado nos circos”, afirmou a ministra Pompili.

Os circos itinerantes deverão ser os primeiros a serem enquadrados disse a ministra. A precedência em relação aos circos franceses é motivada pelo fato de que os animais viajantes são os mais sacrificados.

A ministra se recusou em fixar uma data para as mudanças previstas, reafirmando que o processo será gradual. “Fixar uma data não resolve todos os problemas, prefiro colocar em prática um processo – prioritário – para que isso ocorra o mais rápido possível.”

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2/3 dos franceses são contra a presença de animais selvagens em espetáculos

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500 animais selvagens nos circos 

Pompili estima que existam cerca de 500 animais selvagens nos circos franceses. “Temos de encontrar soluções rápidas e eficientes. Vamos mudar para melhorar a vida dos animais. Serão encontradas soluções, caso a caso, com cada circo, para cada animal”, afirmou.

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A ministra também informou que o governo vai alocar 8 milhões de euros para ajudar as companhias a realizar a transição. “Estamos pedindo aos circos que se reinventem, vai ser um período em que eles vão precisar de apoio concreto econômico e o Estado vai dar apoio total esta transformação”, disse Pompili.

Os recursos serão destinados à reciclagem de pessoal, como domadores, nutricionistas, veterinários. Se estima que o trabalho circense com os animais envolva atualmente cerca de 2 mil pessoas no país.

Parte da verba também será usada nos três delfinários do País, que possuem baleias e golfinhos. A ministra disse que esses golfinhos e quatro orcas deverão ser transferidos nos próximos anos para santuários que serão criados pelo governo.

A princesa e a proibição do uso de animais em circos

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Princesa Stephanie é contra a proibição de animais no circo…

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… ela comanda Festival Internacional de Circo de Monte Carlo

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A decisão do governo francês de proibir as companhias circenses de usar animais selvagens em território francês não foi bem recebida pelos representantes dos circos itinerantes, que se concentraram na Praça René Char para protestar conta a decisão do governo.

O anúncio do governo francês não sensibilizou apenas os circenses. Representante do Principado de Mônaco, a princesa Stephanie já se manifestou publicamente contra a proibição do uso de animais nos espetáculos circenses.

Stephanie organiza, durante o mês de janeiro, desde 1973, no principado o mundialmente conhecido Festival Internacional do Circo de Montecarlo. Stephanie e sua filha Pauline Ducruet já foram, inclusive, protagonistas de espetáculos circenses com elefantes.

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Domador de leão, da cia. Irmãos Zapashny, da Rússia

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Legislação sobre a presença dos animais nos circos europeus

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Em vermelho, os países que são contra a presença de animais, selvagens ou não, no circo 

Em amarelo, os países que permitem parcialmente a presença de animais no circo   

A proibição do uso de animais em espetáculos circense não é consenso na Europa. A batalha deverá ser longa. 

Grande parte dos circos russos usam animais em suas apresentações. 

Na Itália, este ano foi aprovada, depois de dez anos de debate, uma norma que deverá ser transformada em lei, com decreto do governo, que proíbe gradualmente a utilização de animais em circos itinerantes. Os animalistas e as associações de proteção animal estão em cima do caso. O primeiro-ministro Giuseppe Conte e os  ministros  Roberto Speranza (Saúde), Dario Franceschini (Cultura e espetáculos) já apresentaram várias propostas.

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Montagem com o tigre adulto e … 
…filhote contra o uso de animais no picadeiro  

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França, Itália e Espanha registram o maior número de empresas de circo da Europa. A maioria usa animais. A cidade de Paris já havia proibido o uso de circos com animais desde novembro de 2019: hoje se supõe que a partir de agora será proibido o uso de animais selvagens nativos (lobos, ursos e aves de rapina), e em etapas progressivas em diferentes espécies, até a proibição total em não mais de cinco anos.

Nos Estados Unidos, apenas 30 pequenos circos ainda trabalham com animais. New Jersey foi o primeiro estado a proibir oficialmente a presença de animais selvagens e exóticos nos circos, anteriormente também o estado de Illinois e a cidade de New York já tinham restringido a participação de animais.

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Um estudo que fez a diferença

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Professor Stephen Harris, da Universidade de Bristol / Divulgação  

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Um estudo científico encomendado pelo governo da Escócia em 2016 ao professor na Universidade de Bristol, Stephen Harris, sobre o uso de animais por companhias circenses que ganhou o título de “O bem-estar dos animais selvagens nos circos itinerantes”, foi considerado  um estudo definitivo. Tão definitivo que passou a ser usado na campanha de libertação dos animais dos circos também pelo Eurogroup For Animals, que é algo mais do que uma associação profissional. Uma verdadeira organização fundada em 1980, com sede em Bruxelas que coordena e representa o direito dos animais nos salões dos botões dos edifícios da União Europeia.

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