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Nié Pedro e Maíra Campos em Vizinhos…
… primeiro espetáculo da trilogia da Artinerant´s

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Beatriz Antunes*, especial para Panis & Circus 

Na última sexta-feira, 7 de maio, a Cia. Artinerant’s, de Maíra Campos e Daniel Pedro, deu início à retrospectiva online de sua trilogia de espetáculos circenses composta por Vizinhos, Balbúrdia e Cachimônia. Serão diversas exibições no canal do YouTube da companhia até agosto.

Embora não seja possível vê-los em ação presencialmente, por conta da pandemia do coronavírus, tampouco em transmissões ao vivo, já que os espetáculos foram gravados, é emocionante mesmo assim acompanhar as apresentações através da tela, já que as imagens foram captadas sob a acolhedora lona do Circo Zanni, em São Paulo, e trazem um pouco daquela atmosfera para dentro de nossas casas.

Não é o picadeiro que desejaríamos pisar, mas é o de que podemos usufruir agora, e de todo modo a captação e a edição profissionais de Vizinhos, espetáculo que abriu a mostra, permitiram sentir até um pouco de nostalgia ao ver de relance os assentos vazios da arquibancada enquanto os artistas se apresentavam.

No espetáculo, um homem e uma mulher compartilham o espaço de uma casa ao longo de um dia. Ali, relacionam-se entre si e com os objetos cotidianos de maneira surpreendente, flertando com o surrealismo, como se nada fosse o que parece ser, nem mesmo um casal. Tanto uma poltrona pode se converter em trampolim e um arame em varal de roupas, quanto diversos outros podem habitar uma relação a dois. É com os objetos cênicos que os parceiros revelam seus amantes e suas paixões para o público, com eles dançam, ferem e também se aproximam um do outro.

Encarnando um intelectual atabalhoado e distraído, Daniel Pedro arrasta o olhar do público por suas levíssimas acrobacias de solo e esquetes de humor, algumas inesquecíveis como a do sofá que o engole e repele, em que o artista se funde a um hilariante e doce palhaço. Por sua vez, a aramista Maíra Campos dá vida a uma intelectual, uma escritora que se move com incrível exatidão e graça, mesmo levando a vida em cima de um “fio”. A performance impecável de Maíra – que não deixa de fora o célebre espacate sobre o arame – ganha corpo em cenas de dança e equilíbrio que universalizam a experiência da mulher que se desdobra entre o trabalho, a casa e os amores, sem deixar a peteca, ou nesse caso, o leque cair.

Já próximo do final, uma voz em off apresenta a história de um casal disruptivo e fascinante, bastante conhecido da intelectualidade francesa do século 20. Mas não se pode dizer que sejam eles a inspiração para o casal levado ao picadeiro por Maíra e Nié, pois no teatro físico da cia. Artinerant’s a relação vivida por essa dupla pode representar também as muitas parcerias que se encontram hoje em dia, tanto ou mais surpreendentes que a dos famosos “vizinhos” franceses.

*Editora autônoma e co-autora com João Bandeira de “De gatos e galáxias – Trajetória poética de Haroldo de Campos”

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