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Fernanda Araújo, especial para o Panis & Circus

A cerimônia de entrega do 1º prêmio Arcanjo de Cultura, realizada no dia 18 de dezembro, no Theatro Municipal de São Paulo, foi marcada pela valorização dos melhores do ano, reconhecendo o mérito de cada um. O projeto, idealizado pelo jornalista Miguel Arcanjo, deu um passo à democracia, ao premiar montagens como Prota{AGÔ}nistas, espetáculo concebido e dirigido por Ricardo Rodrigues, com o seguinte préstimo: “Pela união das artes circenses a outras formas de expressão artística, com protagonismo negro, abrindo o projeto Novos Modernistas”.

Ricardo Rodrigues no Theatro Municipal: o protagonista / Crédito: arquivo pessoal

Na mesma noite em que estiveram presentes Alexandre Youssef (Secretário de Cultura do Município), Sérgio Sá Leitão (Secretário de Cultura do Estado), Sergio Marberti (ator homenageado) e Danilo Santos de Miranda (diretor Regional do Sesc), Ricardo Rodrigues foi par de todos eles e alçou ao palco não apenas os 25 artistas do espetáculo Prota{AGÔ}nistas, mas também sua representatividade enquanto circense, negro, oriundo da Zona Leste, batalhador, empoderado e competente.

Vale ressaltar que o prêmio Arcanjo de Cultura não se rendeu aos critérios burocráticos dos prêmios tradicionais, como a exigência de uma temporada de exibição mínima durante o ano. Os jurados, Miguel Arcanjo (Teatro), Adriana de Barros (Música), Bob Sousa (Artes Visuais), Elba Kriss (Streaming TV) e Hubert Alquéres (Cinema) se preocuparam apenas como a qualidade e relevância das obras e dos personagens que fizeram a história em 2019.

Prota{AGÔ}nistas, por exemplo, fez apresentações marcantes, mas pontuais. A estreia ocorreu no Festival Internacional de Circo, no dia 7 de abril, atendendo à demanda do evento para a apresentação de obras sobre a diversidade – no caso, que ressaltasse o trabalho do artista negro. “Fizemos uma breve temporada no Sesc Pompeia e levamos a Banda Prota{AGÔ}nistas ao Primeiro Fórum de Cultura Negra”, disse Ricardo Rodrigues.

Os Prot{agô}nistas no Theatro Municipal

A apresentação que rendeu o prêmio Arcanjo de Cultura, porém, foi realizada apenas uma noite, em 8 de maio, no projeto ‘Novos Modernistas’, também no Theatro Municipal, em comemoração à Semana de Arte Moderna. Na ocasião, cerca de 200 pessoas voltaram para casa, após a lotação do teatro. Das 1.500 pessoas da plateia, 90% era negro, inclusive o Miguel Arcanjo (idealizador do prêmio).

“Para muitos da plateia, foi uma noite de prestigiar o filho, o amigo. Muitos com a melhor roupa e a primeira vez no teatro. Um teatro que era de ópera, mas estávamos ali para ocupar um lugar o que era de todos na verdade, um teatro paulistano. Levamos um elenco de negros, para falar sobre a beleza negra, sobre técnicas, carisma, e as verdades que ocorrem com os negros, mas de um jeito artístico e poético. Bombardeamos as redes sociais, convidando todos. Não só para estar, mas para “ser” ali conosco, naquela experiência cênica”, contou Rodrigues, orgulhoso da multidão que reuniu.

Convite do espetáculo que rendeu o prêmio à trupe
Elenco de Prota{AGÔ}nistas / Crédito: Ricardo Rodrigues

Prota{AGÔ}nistas – O Movimento Negro no Picadeiro

Prot {agô} nistas vem ao picadeiro com uma única e a mais forte bandeira de luta e resistência das negras e negros do Brasil: a pele. A palavra ‘agô’ é um pedido de licença, uma permissão de entrada em um espaço. Os artistas vão ocupar o picadeiro, empoderados de técnica e carisma com o que há de belo e contemporâneo na produção cultural negra. A música, a dança e as artes circenses entram em sintonia fina e extrapolam a celebração, a fim de mostrar, provocar e deixar a plateia contemplar a beleza negra na dor, no humor e na sua poesia”, disse Ricardo Rodrigues ao Panis & Circus pouco antes da estreia, no Festival Internacional de Circo (clique aqui e leia a matéria na íntegra).

Para saber detalhes sobre a potência desse espetáculo, clique aqui e confira a matéria primorosa que Mônica Rodrigues da Costa escreveu sobre a estreia da montagem, aqui mesmo, no Panis & Circus.

Ficha Técnica:
Duração: 75 minutos / Indicação: Livre
Direção: Ricardo Rodrigues
Elenco: Fafá Coelho, Guilherme Awazu, Maíza Menezes, Renato Ribeiro, Robert Gomez, Tania Oliveira, Tatilene Santos, Veronica Santos.
Musicos: Dica L. Marx, Eric Oliveira, Lilian Teles, Mariana Per, Melvin Santhana, Renato Ribeiro, Vinicius Ramos.
Dança Gumboots: Danilo Nonato, Diego Henrique, Pamela Cristina, Rafael Oliveira, Silvana de Jesus e Washington Gabriel

O prêmio

A primeira edição do prêmio foi bastante corrida e quase não ocorreu por conta de vários fatores. Os 12 concorrentes de cada área ficaram sabendo da indicação com poucos dias de antecedência e a cerimônia ocorreu no finalzinho do ano, em 18 de dezembro.

O júri foi composto por cinco especialistas em cultura. O próprio Miguel Arcanjo, presidente do corpo de jurados e crítico de teatro; Adriana Barros, da área musical; Bob Sousa, de artes visuais; Elba Kriss, como streming TV; e Hubert Alquéres, representante do cinema.

Os vencedores do 1º prêmio Arcanjo de Cultura
Artes Visuais
Galeria Transarte: pelo estímulo de Maria Bonomi e Lena Peres à diversidade nas artes.

Quebrada: São Paulo, na Visão dos Cria, no Instituto Moreira Salles Paulista: Pela iniciativa de Marcelo Rocha de utilizar a fotografia para construir futuros.
Regina Boni: pela retomada da Galeria São Paulo Flutuante.
Ruy Ohtake – O Design da Forma, no Instituto Tomie Ohtake: pela trajetória que valoriza o design nacional.
Sérgio Sá Leitão: pela criação do MIS Experience, primeiro espaço de exposição imersiva da América Latina.
Sesc São Paulo – Artes Visuais: pela extensa e constante programação de Artes Visuais em suas unidades.

Cinema
A Vida Invisível: pelo cinema delicado e sofisticado que representa o Brasil na corrida pelo Oscar.
Bacurau: por expor mazelas, contradições e desigualdades do Brasil de sempre, conquistando o grande público.
Espaço Itaú de Cinema: pela excelência na curadoria de programação.
Festival Mix Brasil: pelo incentivo à diversidade no cinema.
Linn da Quebrada: por suas mensagens potentes e necessárias nas telas e nos palcos.
Mostra Internacional de Cinema em São Paulo: por ser janela entre o cinema do Brasil e do mundo.

Música
Ana Cañas: pela coragem do posicionamento sociopolítico durante a turnê do disco Todxs.
Black Alien: pela reinvenção como artista e rimador no disco Abaixo de Zero: Hello Hell.
Larissa Luz: por condensar em seu disco ‘Trovão’ a força da nova música baiana.
Natura Musical: por fomentar a qualidade artística na nova música brasileira.
Virada Cultural: por democratizar o acesso aos principais artistas de nossa música.
Zeca Baleiro: pela criatividade no álbum em dois volumes ‘O Amor no Caos’.

Streaming TV
Coisa Mais Linda: pela sofisticação na abordagem da temática feminina e feminista na série da Netflix.
Cultura Livre: por abrir espaço na TV Cultura – e TV aberta – para novos talentos da música brasileira.
Glamour Garcia: pela competente defesa de sua personagem na novela A Dona do Pedaço, na Globo.  
Maria Júlia Coutinho: pelo trabalho de excelência que a levou a ancorar o Jornal Hoje, na Globo.
Nany People: pela trajetória que culminou com destaque na novela ‘O Sétimo Guardião’ e no reality PopStar, na Globo.
Persona em Foco: pela valorização na TV Cultura da memória dos grandes nomes que criam nossos palcos e telas.

Teatro
Eduardo Chagas: pela potente trajetória nos palcos do Brasil e do mundo com a Cia. de Teatro Os Satyros.
Gota D’Água {Preta}: por ressignificar o clássico de Chico Buarque e Paulo Pontes com corpos negros, sob direção de Jé Oliveira.
Madame Satã: pela valorização de um ícone negro e ousadia na produção independente do Grupo dos Dez.
Prot(agô)nistas: pela união das artes circenses a outras formas de expressão artística, com protagonismo negro, abrindo o projeto Novos Modernistas.
Teat(r)o Oficina: pela atualidade e ousadia propostas por Zé Celso e seus artistas na releitura do clássico Roda Viva, de Chico Buarque, meio século depois.
Terça Insana: pela valorização do humor inteligente há 18 anos, com constante revelação de novos talentos e em diálogo com o contemporâneo.

Homenageados
Fernanda Montenegro: pelos 90 anos de vida, sendo exemplo incontestável de brilhante trajetória para as artes no Brasil.
Acadêmicos do Baixo Augusta: pelos dez anos do bloco, referência na retomada do Carnaval de rua de São Paulo.
Adaap (Associação dos Artistas Amigos da Praça): pelo desenvolvimento pedagógico inovador e inclusivo da SP Escola de Teatro e da MT Escola de Teatro.
Cia. de Teatro Os Satyros: pelos 30 anos de uma das mais emblemáticas companhias de teatro do Brasil, sempre em diálogo com a efervescência da vida ao seu redor.
Danilo Santos de Miranda: pela realização das mais diversas formas de manifestações artísticas no Sesc São Paulo.
Eduardo Saron: por incentivar projetos culturais com diversidade e representatividade no Itaú Cultural.
Festival de Teatro de Curitiba: por ser há quase três décadas ponto de referência do teatro no Brasil e na América Latina.
Hugo Possolo: pela direção artística do Theatro Municipal de São Paulo, abrindo suas portas para real representatividade da metrópole.
Marília Gabriela: pela permanente dedicação à cultura, que a levou da TV a uma potente trajetória no teatro.
Rubens Ewald Filho (in memoriam): pela excelência do pensamento crítico, com apoio irrestrito ao cinema brasileiro e à nossa cultura.
Sergio Mamberti: pelos 80 anos de vida, com histórica contribuição às artes e à cultura brasileira.
Teca Pereira: pelo talento demonstrado em diversas vertentes artísticas com pioneirismo na representatividade da mulher negra nas artes.

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