Por Fernanda Araujo, especial para o Panis & Circus

Benjamim de Oliveira é conhecido como o primeiro palhaço negro do Brasil, mas seu legado vai muito além desse título. O artista mineiro tornou-se um dos nomes mais importantes para o desenvolvimento do circo no Brasil. A vida e a obra de Oliveira integram a Ocupação Benjamim de Oliveira, em cartaz no Itaú Cultural, que segue até o dia 13 de março, com entrada gratuita.
A Ocupação Benjamim Oliveira segue a linha das demais ocupações do Itaú Cultural e esmiúça os detalhes sobre trajetória pessoal e profissional, relevância no país e legado do artista homenageado, um dos percussores do circo-teatro no Brasil.
À disposição do público, a montagem reúne cerca de 120 peças, entre recortes de jornais da época, fotografias, materiais audiovisuais, objetos circenses originais, livros e documentos, além de fonogramas de músicas interpretadas por Benjamim e seus colegas da época.
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A mostra
O espaço expositivo contém recursos acessíveis pensados para possibilitar a melhor compreensão do conteúdo. Para o público cego e/ou com baixa visão há audiodescrição do espaço, objetos táteis e conteúdo em braile. Já pessoas com deficiência auditiva podem explorar os videoguias e os materiais em áudio legendados em português e traduzidos para Libras. O espaço recebe até 30 pessoas, no máximo, com todo cuidado em relação à Covid-19. Não é necessário agendar.
Mas a Ocupação não se restringe ao espaço expositivo. O público pode conferir materiais e extensa programação paralela no Itaú Cultural.
Mas, afinal, qual foi a relevância de Benjamim de Oliveira?
A história do artista foi negligenciada por muito tempo. Sofreu um apagamento, mas vem sendo retomada. Uma das responsáveis pelo resgate da obra de Olivera foi a historiadora Ermínia Silva no livro ‘Circo-Teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil’ (Editora Altana, 2007.434 p.)
Ermínia conta que o Brasil ganhou adaptações regionais de números trazidos pelas famílias circenses quando aportaram no Brasil, em meados do século 19, com acrobacia, ginástica, teatro, comédia, opereta e pantomima, entre outras coisas. Neste contexto, Benjamim de Oliveira, aos 12 anos, fugiu com o Circo Sotero, transformando-se, anos depois, em famoso empreendedor, diretor, ator, palhaço, acrobata, cantor e instrumentista.
Com Oliveira, e muitos de sua época, a prática circense entrou em um processo de “formação/socialização/aprendizagem”, pois o circo passou a funcionar não só com nascidos de famílias tradicionais do picadeiro, mas também com seus novos artistas. E profissionais que utilizavam o circo como forma de divulgação itinerante e sazonal, caso, por exemplo, dos cantores que seguiam em temporada com as trupes. Nesta linha, nasceu o circo do Brasil.
Quem foi Benjamim Oliveira?
Benjamim de Oliveira nasceu em 1870, na fazenda dos Guardas, na atual cidade de Pará de Minas. Diziam que sua mãe era um tipo de ‘escrava de estimação’ e por este motivo os filhos foram alforriados ao nascer. O pai era um capataz que lhe batia diariamente. Se virando desde cedo, foi carreiro, guarda-freio, candeeiro e, ainda moleque, aos 12 anos, vendia bolo na vila quando decidiu fugir com o Circo Soreto.
Mais tarde, conhece seu mestre Severino de Oliveira, cujo sobrenome pode ter sido adotado pelo rapaz após um novo registro. Com a trupe fazia de tudo, como trapézio, acrobacias e tarefas domésticas, mas descobriu que o circo ia muito além da arte.
Possivelmente de tanto apanhar, Oliveira resolveu fugir de novo e encontrou um grupo de ciganos. Já no grupo, uma moça revelou que ele seria trocado por um cavalo, o que o fez fugir novamente. E, durante a nova fuga, demostrou suas habilidades com acrobacia, livrando-se das garras de um fazendeiro.
De um caminho a outro, em Mococa/SP, encontrou o norte-americano chamado Jayme Pedro Adayme que lhe deu o primeiro emprego remunerado no circo, até que um dia foi obrigado a substituir um palhaço que estava doente. E não parou mais.
Já no Rio de Janeiro, como palhaço, chamou a atenção do Marechal Floriano Peixoto, então presidente da República…
Escreveu diversas peças de sucesso, como ‘O Diabo e o Chico’, ‘Vingança Operária’, ‘Matutos na Cidade’ e ‘A Noiva do Sargento’. Atuou também como cantor e compositor, e protagonizou ‘O Guarani’, peça filmada no circo Circo Spinelli.
Benjamim de Olivera deu novo status ao circo, como empreendimento, idealizando o formato de circo-teatro. Apesar da fama, morreu quase na miséria, em 3 de maio de 1954, aos oitenta e quatro anos.
Serviço
Ocupação Benjamim de Oliveira
Até 13 de março de 2022
Terça a domingo, das 11h às 19h
Entrada gratuita
Itaú Cultural – Av. Paulista, 149, São Paulo