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Ivy Fernandes, de Roma
O mundo felliniano voltou à cena em uma noite enluarada em Rimini, cidade natal do cineasta, com a inauguração do Museu Fellini, que contou com a apresentação de um espetáculo circense, em 19 de agosto de 2021. Esse espetáculo foi idealizado pelo Group Fest em homenagem a paixão de Fellini pela arte circense e, durante duas horas, acrobatas, bailarinas, aramistas, mágicos e palhaços encantaram a plateia e a imprensa.
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O Museu Fellini tem três espaços que celebram o Mestre de muitos Mestres. O Ministério da Cultura da Itália reconheceu que o projeto, financiado com mais de 13,5 milhões de euros, deve se tornar um novo pólo cultural.
“Tivemos uma grande divulgação com a inauguração do Museu Fellini: uma página inteira no New York Times e no The Guardian. Reportagens de destaque no Japão, Austrália, Nova Zelândia, Canadá e em todos os países europeus. O nosso trabalho foi recompensado e esperamos que o museu faça pela cidade de Rimini o mesmo que o Museu Guggenheim fez pela cidade de Bilbao, na Espanha – ao se tornar um polo de atração cultural muito importante”, destaca Marco Leonetti, da Prefeitura de Rimini, diretor da Cinemateca e coordenador do Museu, em entrevista ao Panis & Circus.
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Leonetti destaca que a construção do Museu foi complexa porque é formado por três espaços culturais diferentes localizados no centro histórico de Rimini: o Castelo Sismondo, o Cinema Fulgor (Palácio Valloni) e a Praça Malatesta.
“A sede central é Castelo Sismondo, construído no século 15, e que foi reformado e adaptado com 16 salas, onde estão expostas as faces do mundo felliniano”, afirma Leonetti.
Lá podem ser vistos os sets originais usados por Fellini e a reconstrução de alguns cenários.
“Os seus desenhos que formam o Livro dos Sonhos estão em uma sala, os magníficos figurinos de Casanova, Roma, Amarcord, entre eles, em outra.
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Mais: salas de fotografias dos seus filmes como a da Dolce Vita e seus inesquecíveis protagonistas”. Entre eles, Marcello Mastroianni, Giulietta Masini, sua esposa e musa, Anita Ekberg – que ficou ligada ao personagem da Dolce Vida. A sala dedicada a Ekberg é chamada Il sognante (O Sonhador), onde uma estátua de proporções gigantescas reproduz a atriz na cena de La Doce Vita, acompanhada de fotos, filmes e desenhos. É um salão inteiro dedicado a “Anitona”, como Fellini chamava a estrela que veio do frio, ex-miss Suécia.
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Outra sala é dedicada à música que inclui as partituras originais de Nino Rota e outros grandes músicos que colaboraram com Fellini como Nicola Piovani e Luis Bacalov.
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O segundo espaço do Museu é a Praça Malatesta, uma área a céu aberto, e que circunda o Castelo Sismondo e “tem grande efeito cênico, com jardins e fontes iluminadas com efeitos especiais”, diz Leonetti. É utilizado também para projeção de filmes, espetáculos e eventos durante o verão. A Praça Malatesta conecta o Castelo Sismodo e o Cinema Fulgor.
“O terceiro espaço é o Palácio Fulgor, obra arquitetônica do século 18, e no andar térreo funciona o cinema Fulgor’, continua Leonetti. “O prédio foi reformado para ficar como o original pelo cenógrafo Dante Ferretti, premiado com 3 Oscar e colaborador de vários filmes de Fellini. No Cinema Fulgor, Fellini assistia aos filmes quando adolescente. Ele saiu de Rimini com 20 anos.
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O segundo e terceiro andares do Palácio Fulgor serão destinados a exposições e eventos culturais. Será um ponto de encontro cultural para a cidade. Estamos abertos para propostas culturais, a nossa intenção é manter um museu vivo, interessante e repleto de emoções”. “É um museu moderno e inovador que é uÈ um
“E’ um museu moderno e inovador que utilizou as as tecnologias audiovisuais para estabelecer completa interação entre o público e as salas, espaços abertos e fechados”.
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Festa de inauguração
Com personagens flutuando no céu, castelos envolvidos em nevoeiro, lua cheia que dominava o cenário, a plateia presenciou o espetáculo circense, com as músicas dos filmes mais célebres do cineasta, durante a inauguração do Museu Fellini em 19 de agosto. Essa festa de inauguração sintetizou a vida de Federico Fellini dedicada à arte cinematográfica e foi idealizada pelo Fest Group Events de Valerio Festi e Monica Maimone, empresários de importantes eventos internacionais, encarregados de organizar a festa de inauguração para celebrar a abertura do museu dedicado ao Maestro, na cidade onde ele nasceu em 1920 . “Fellini foi um visionário, um gênio, um dos maiores diretores do século 20”, afirmou o empresário Festi especializado em efeitos luminosos extraordinários e que trabalhou também no Brasil por cinco anos, organizando eventos em Brasília e outras cidades.
A cerimónia de inauguração do Museu Fellini foi prestigiada pelo ministro da Cultura, Dario Franceschini, que foi quem acabou por concretizar um projeto paralisado durante vinte anos cercado por inúmeras controvérsias. “O sonho se torna realidade”, disse ele na festa de inauguração.
“O Museu não pretende interpretar o cinema de Fellini mas exaltar a herança cultural de um dos mais ilustres diretores da história do cinema, e se espalha em vários locais criando um trajeto que descreve o universo felliniano e transforma o visitante em protagonista em um ‘diálogo’ sem interrupção entre espaços internos e externos. E tem instalações multimídia, em que a criatividade e a imaginação podem se contagiar positivamente”, explicam os organizadores da mostra.
Nascido em Rimini, cidade marítima, Fellini sempre teve uma relação próxima com o mar que aparece em muitos dos seus filmes. Por muitos anos ele teve uma casa de praia, em Fregene – centro balneário ao redor de Roma, onde se refugiava, passando longas temporadas. Em Roma ele morava no centro, na famosa Via Margutta, a rua dos pintores, ao lado da Piazza di Spagna. Era um homem simples, falava com todos e era irônico sobre a sua própria celebridade. Não tinha os tradicionais sonhos burgueses, mega casa, mega carro e mega viagens. Tinha medo de voar, não gostava de guiar e bastava um bom sofá onde pudesse fechar os olhos e sonhar …