Rota circense nas Américas: do Brasil para o Chile e o México
O malabarista brasileiro Rogério Piva se apresenta nesta temporada de verão no Circo Atayde, no México. O espetáculo fica em cartaz até 16 de setembro (começou em 06/07).
Esse circo completou 124 anos e é tão antigo que entrou para o livro de recordes, o “Guiness Book”, como o circo mais antigo em atividade. A primeira apresentação do Atayde ocorreu em 26 de agosto de 1888.
Na atual temporada, o Circo Atayde traz atrações com animais, números aéreos, malabarismo, equilíbrio, acrobacia e quadros cômicos.
Integram o elenco mexicanos, ucranianos, argentinos, romenos, um russo e um brasileiro. Essa mistura de nacionalidades mescla também cultura e linguagens estéticas e contribui para trazer técnicas e estilos diferentes para o espetáculo do circo.
A seguir, leia a entrevista que Rogério Piva concedeu por telefone para o site Panis & Circus.
Panis & Circus – Como surgiu o convite para trabalhar no México?
Rogério Piva – Foi engraçado. Em julho de 2011, terminei minha temporada no Circo Vostok, no Rio Grande do Sul, e voltei para São Paulo. Eu estava triste por verificar que a classe circense brasileira é dividida e cada grupo luta por seus interesses e não pelo circo.
Decidi sair desse ambiente pesado, mas não sabia para onde ir. Em 24 de agosto de 2011, às 22h00, peguei um ônibus na rodoviária do Tietê e fui direto para Santiago, no Chile.
Levei algumas peças de roupas, figurinos e aparelhos de malabares. Eu tinha ouvido dizer que lá havia temporadas de circos, mas eu não tinha certeza. Lá cheguei e fiquei meio perdido. Pensei em trabalhar nas ruas até encontrar um trabalho mais seguro, e aí vi um circo em frente à rodoviária.
Fui até lá conhecer o circo, que se chama Golden Circos. Conversei com algumas pessoas, que me apresentaram à direção do circo. Para minha surpresa, eles já tinham ouvido falar no meu nome.
Por isso, participei de um espetáculo para que avaliassem meu número. Preparei o figurino, meus sambas e aparelhos e fiz a apresentação. Todos me receberam muito bem. Aí fiquei trabalhando com eles por uma temporada e me cederam um trailer para eu morar. Fiquei feliz.
Nesse mesmo período, fui entrevistado por um canal de TV e tudo deu certo. Os chilenos são apaixonados por circo, respeitam o picadeiro e fazem um trabalho bonito. Esse foi o circo em que eu me senti melhor até hoje.
Nesta temporada, cerca de 30 circos estiveram na cidade de Santiago, circos de todo o Chile e de fora também.
Muitos artistas e empresários vêm de todos os lados. Os empresários do Circo Atayde me viram trabalhar em Santiago, gostaram do que viram e me contrataram para apresentações no México.
Circus – Gosta de se apresentar no México? Como é o público mexicano?
Piva – Gosto. O público é receptivo e adora a arte do circo. É bem-educado, acompanha os números e evoluções, entende as dificuldades do picadeiro e aprecia com carinho e respeito o espetáculo.
No começo tive dificuldades de adaptação em razão da altitude da cidade. O corpo parece pesar mais. Eu sentia falta de ar, a pressão abaixava e eu me cansava muito rápido durante meu número: parecia que meu coração ia sair pela boca.
Isso prejudicou um pouco minha apresentação, porém, adaptei o número aos poucos, buscando aperfeiçoamento e, no momento, estou em uma fase muito melhor.
Circus – Como seus colegas o receberam?
Piva – Todos aqui são amigáveis e é interessante partilhar o espetáculo com artistas de vários países. Os artistas gostam do Brasil, sempre vêm conversar comigo sobre futebol e Carnaval e têm vontade de conhecer o país.
Circus – O Circo Atayde tem mais de cem anos. Como o descreve?
Piva – Quando comecei a praticar malabares, eu pesquisava tudo sobre circo e vi muitas fotos do Atayde. Ele é o circo mais antigo em atividade. Por isso, está no “Guiness Book”. Aqui no México é considerado o melhor circo, um circo clássico, reconhecido em todo o mundo. É bem organizado e se preocupa bastante com o bem-estar do artista.
Tem equipes de produção, técnica e executiva eficientes, que garantem a qualidade dos espetáculos. No começo, meu número não estava indo bem e eles foram supercompreensivos. Conversaram comigo todo o tempo e não me cobraram nada. Deram o tempo para que eu me adaptasse. Eles são realmente muito bons no que fazem e, por isso, mantêm uma empresa com um conceito tão forte por tantos anos.
Circus – Quanto tempo trabalhará no Atayde?
Piva – Eles fizeram um contrato de um ano. Eu não estava seguro, apesar de ser uma excelente empresa, e queria conhecer primeiro, antes de assinar contratos mais longos. O fato é que eu estava enfrentando alguns problemas pessoais, que me afetaram emocionalmente. Por isso, fico até 18 de setembro deste ano, que coincide com o fim desta temporada de verão.
Passeios às pirâmides e ao centro histórico
Circus – Fez passeios interessantes no México? Indica algum lugar?
Piva – Não fiz muitos passeios. Há lugares fascinantes aqui, porém, meu tempo é curto. Fazemos dois espetáculos por dia, durante a semana toda. Existem museus, parques de diversão fabulosos e lugares históricos incríveis.
Acho que o lugar mais popular aqui é o centro histórico, Zócalo, onde está o Palácio do Governo e a Catedral Metropolitana. É uma visão esplêndida.
Visitei também no centro um templo asteca. Tenho programas planejados, agora que já me adaptei mais ao país. Todo mundo diz que não posso deixar de ver as pirâmides Teotihuacán. Esse é um dos passeios que pretendo fazer.
Sabor mexicano
Circus – Que pratos acha mais saborosos?
Piva – A culinária mexicana é variada e apimentada. A comida é gostosa e barata, mas depende do lugar. Aqui comem muito queijo e muita carne.
Em todos os lugares vendem tacos, espécie de torta para a qual você escolhe o recheio. Sou vegetariano e não foi fácil encontrar lugares para comer perto do circo.
Agora encontrei um restaurante onde sempre fazem pratos diferentes com verduras. Destaco também o huarache (tortilha bem grande, com feijão e variações de muitos recheios), que como de vez em quando e é muito bom.
Menino fugiu com o circo nos anos de 1880
O fundador do Circo Atayde, Aurelio Atayde Guízar, fugiu com um circo quando era menino. Depois ele levou para o picadeiro seus irmãos, que se empolgaram com as atividades circenses e decidiram fundar a companhia Atayde Hermanos Circus. A primeira apresentação do Circo Atayde ocorreu em 26 de agosto de 1888.
Durante 20 anos, o circo viajou em turnês pela Américas Central e do Sul. Conquistou plateias, principalmente, devido aos números aéreos.
Em fevereiro de 1946, a lona voltou ao México, e a recepção foi calorosa. Todos os anos, o Circo Atayde faz uma temporada no país.
O Festival de Circo de Monte-Carlo (tema de reportagem no Panis & Circus, siga link abaixo) homenageou o Circo Atayde com uma medalha de ouro, em 2004, o que é um importante reconhecimento mundial.
Link: http://www.panisecircus.com.br/monte-carlo-tem-o-festival-do-circo-mais-famoso-do-mundo/
Dicas de passeio do malabarista Rogério Piva
Centro histórico
A Plaza de la Constituición, ou Zócalo, o centro histórico da Cidade do México, é uma das maiores praças do mundo. Nela está a Catedral Metropolitana da Cidade do México, o Palácio Nacional, vários prédios públicos, restaurantes, lojas e feiras.
Ao lado do centro um templo asteca é circulado por ruas com vendedores ambulantes com produtos típicos do folclore mexicano.
O Palácio Nacional rememora o tempo em que o espanhol Hernán Cortés dominou a cidade asteca de Tenochtitlán e seu imperador, Montezuma. Cortés soterrou o palácio de Montezuma e construiu a sua casa em cima dele, em modelo renascentista, nos anos de 1500.
No prédio onde funciona o gabinete do presidente mexicano há diversos murais de Diego Rivera, que criou sua versão de artista plástico para a história mexicana, entre 1929 e 1935.
Os pintores Diego Rivera e Frida Kahlo casaram-se duas vezes e viveram uma história de amor tumultuada. Ela é considerada um dos principais nomes da história artística do México. A atriz Salma Hayed interpretou Frida Kahlo no cinema.
Capital do império asteca
“Tenochtitlán, a capital do império asteca, foi construída em uma ilha do lago Texcoco. Ao ser invadida e conquistada pelos espanhóis, foi destruída para a construção da nova cidade. O local se tornou a Plaza de la Constituición, ou Zócalo, e guarda embaixo de seus edifícios as ruínas astecas.
Os espanhóis usaram as pedras de Tenochtitlán para fazer as novas obras e aterraram o lago para ampliar o território.
Esse tipo de expansionismo causou um dos principais problemas da cidade: ela está afundando. O aterramento do lago Texcoco criou um solo instável e frágil.
A terra não suporta o peso das construções, e vários prédios, como igrejas, monumentos e até mesmo as ruas, apresentam desnível e rachaduras”, informa em reportagem o jornal “Folha de S.Paulo”.
O Zócalo é região mais afetada pelo afundamento. “Atrás da Catedral há vários prédios com fortes rachaduras causadas em razão dos problemas do solo e também em decorrência do terremoto de 1985, que matou 9.000 pessoas na cidade.”
(Raquel Benozzatti)