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Quarta-feira: 26.12.2018

Folha de S.Paulo – Cadê o Fabrício Queiroz?

Elio Gaspari

O caso do assessor dos Bolsonaro só fez piorar, pois a estratégia do silêncio é suicida

O PM Fabrício Queiroz continua sumido. Quem conhece o mundo das malfeitorias garante: “É suicídio”. Ele não aparece em casa e não compareceu aos depoimentos combinados com o Ministério Público.

Admita-se que esteja com os nervos em pandarecos, pois passou de amigo da Primeira Família para o centro de uma rede de movimentações financeiras pra lá de suspeitas. Seu ex-chefe, o senador eleito Flávio Bolsonaro, diz que ouviu seu relato e achou-o “bastante plausível”. Só se poderá confiar nessa plausibilidade depois que o relato se tornar público.

Uma coisa é certa: a história segundo a qual Queiroz deixou a assessoria de Flávio Bolsonaro no dia 15 de outubro para tratar de sua aposentadoria não fica em pé.

Ele foi exonerado no dia seguinte ao aparecimento da notícia de suas movimentações bancárias “atípicas”. Além disso, no mesmo dia, foi exonerada sua filha Nathalia, que estava lotada no gabinete de Jair Bolsonaro, em Brasília. Quando os dois tornaram-se “ex-assessores”, faltavam 13 dias para o segundo turno.

O silêncio de Queiroz faz com que suas movimentações financeiras “atípicas” continuem apenas como algo suspeito. Um depósito de R$ 24 mil na conta da mulher de Jair Bolsonaro já foi explicado por ele como parte do pagamento de um empréstimo pessoal.

O presidente eleito reconheceu que não informou a transação à Receita Federal, mas atire a primeira pedra quem já não fez isso com uma pessoa de suas relações.

Outros murmúrios, saídos de fontes anônimas, falam em venda de objetos eletrônicos a conhecidos. Coisa de R$ 600 mil ao longo de 13 meses, caso se olhe só para o que entrava em sua conta. Mesmo assim, o feirão de Queiroz movimentava quantias muito superiores ao seu rendimento como suboficial da PM e assessor de um deputado estadual.

Queiroz não é um PM qualquer. Além da ligação com os Bolsonaro, sua folha é a de um militar premiado. Foi homenageado pela Assembleia Legislativa e ganhou a medalha Pedro Ernesto.

Há anos, como soldado, recebeu o abono, hoje extinto, dado aos PMs por atos de bravura em confrontos com bandidos. Era a “gratificação faroeste”. (Quando esse benefício foi instituído, em seus confrontos a PM do Rio matava duas pessoas e feria uma. Dois anos depois, matava quatro para cada ferido.)

Está nas livrarias “O Infiltrado – Um Repórter dentro da PM que mais mata e mais morre no Brasil”, de Raphael Gomide. Em 2007 ele fez concurso para a PM do Rio, passou pelo treinamento e serviu por 22 dias como soldado. Lá, um ex-comandante da corporação admite que a “gratificação faroeste” foi um estímulo à “cultura da violência”.

O silêncio de Queiroz pode ser eficaz para quem olha para o tempo político. É suicídio porque esse tempo nada tem a ver com o do Ministério Público. Os procuradores não têm pressa, têm perguntas. Se ele movia tanto dinheiro porque transacionava com mercadorias, deverá dizer de quem as comprava e para quem as vendia.

A esperança de que Queiroz passe pelo Ministério Público administrando um silêncio seletivo é suicida. Peixes grandes como Marcelo Odebrecht e Antônio Palocci tiveram a mesma ilusão. Queiroz é um lambari, sua movimentação financeira não compraria um dos relógios com que as empreiteiras mimavam maganos.

Contudo, sua trajetória e seu silêncio são ilustrativos do que vem junto com a “cultura da violência”. Ele foi da PM para um gabinete na Assembleia Legislativa do Rio, empregou parentes e tem a confiança da Primeira Família da República, cujo chefe elegeu-se presidente com uma plataforma moralista e justiceira.


Quarta-feira – 26.12.2018

O Globo – Lauro Jardim (por Guilherme Amado)

O Natal de paz dos Bolsonaro

A uma semana da posse, Jair, Eduardo e Carlos Bolsonaro passaram o Natal ontem puxando briga no Twitter. Os alvos foram partidos de esquerda, a imprensa e até o Facebook. Um Natal em paz.

 


Folha de S.Paulo – Reação seletiva

Pablo Ortellado

Direita faz campanha contra o fechamento de páginas no Facebook, mas silencia sobre o desaparecimento da maior fábrica de notícias hiperpartidárias

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, se manifestou publicamente, pelo Twitter, no sábado (22) contra o fechamento de dezenas de perfis e páginas de direita no Facebook, entre eles o perfil do deputado eleito pelo Paraná Paulo Martins (PSC), o ex-coordenador do MBL no Paraná Eder Borges e uma das maiores páginas de notícias hiperpartidárias de direita, a República de Curitiba.

Não é a primeira vez que Bolsonaro e seu campo político criticam o Facebook por retirar páginas e perfis que violam sua política de autenticidade, que impede a criação de perfis falsos ou enganosos e as manipulações feitas a partir deles. Curiosamente, na ação desse tipo que mais impactou o seu campo político, em plena campanha eleitoral, Bolsonaro e seus aliados se calaram.

Em julho, quando centenas de páginas do MBL foram suspensas por violarem a política de autenticidade da plataforma, a direita promoveu uma grande campanha contra o que chamou de censura. Na ocasião, o MPF de Goiás pediu sucessivos esclarecimentos à empresa para comprovar os vínculos das páginas com o MBL. Apenas parte desses esclarecimentos foram tornados públicos.

No começo de agosto, foi a vez de o Twitter ser alvo de críticas por pedir que contas de direita com comportamento suspeito passassem por um processo simples de verificação de identidade. A direita reagiu lançando a hashtag #DireitaAmordaçada.

No episódio da semana passada, chama a atenção a conexão entre as páginas e os perfis suspensos.

Embora a nota do porta-voz do Facebook tenha se limitado a dizer que as exclusões fazem parte do trabalho permanente de remover “páginas e perfis que estavam violando nossas políticas de autenticidade”, o fato de as páginas e os perfis serem do Paraná, do mesmo campo político e terem sido excluídos na mesma ação sugere que podem fazer parte de uma mesma rede articulada, assim como aconteceu com o MBL em julho.

Mas enquanto as ações das plataformas nos três episódios foram respondidas com amplas campanhas de protesto, o caso de maior impacto no campo da direita foi recebido com silêncio.

No dia 22 de outubro, o Facebook removeu páginas e perfis operados pela rede RFA, responsável pelos mais influentes sites de notícias hiperpartidários em operação no Brasil. As páginas compunham simplesmente a maior rede de apoio à campanha de Bolsonaro no Facebook.

Sua supressão, em plena campanha eleitoral, praticamente não foi lamentada pelos atores da nova direita e não gerou grandes protestos. A diferença de comportamento neste e nos outros casos deveria pelo menos levantar suspeitas.


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