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Neto de Charles Chaplin, começou aos 4 anos no Cirque Bonjour

Ivy Fernandes, de Roma

Após um período de descanso de “Raoul” na Itália e durante a apresentação de seu novo filme, L’Autre (A Outra), o artista James Thiérrée conversou com a imprensa, em coletiva que contou com Panis & Circus, para falar do espetáculo que deve ser retomado depois da Páscoa.

“Raoul” foi escrito e é dirigido por ele. Um turbilhão de pantominas, cenas de circo, dança, música, malabarismo e equilibrismo são usadas para mostrar a frenética e fantástica parábola do personagem.    

 “Achei que era hora de fazer uma pausa após as últimas apresentações no final do ano passado em Milão e em Roma, na Itália, durante o Festival Roma Europa, onde contamos a colaboração da Filarmônica de Roma”, explica o artista que é neto de Charles Chaplin.

Thierée em cena de Raoul

“Raoul se tornou um amigo íntimo, é quase humano, o meu companheiro de vida. Sinto falta dele, especialmente agora, neste período de repouso. Mas preciso de muita energia, elasticidade, dinamismo, força física e mental para enfrentar o público durante toda a peça.” Cada espetáculo tem 1h50 de duração. “Ficamos eu e ele contracenando comigo mesmo, às vezes por meio de espelhos, de objetos ou da minha própria sombra. Eu perco entre 2 a 3 quilos em cada apresentação”, explica.

A essência de Raoul

Espetáculo mostra a luta de um homem consigo mesmo

A peça é uma fábula fantasmagórica que mostra a luta de um homem consigo mesmo. Raoul é um visionário que vive isolado em uma torre, no seu mundo encantado, habitado por coisas estranhas elementos que se movem, como uma chaleira falante. As roupas são animadas, assim como estranhos e grandes peixes, polvos que se movem e também elefantes fantasmas. Estes “atores coadjuvantes”, feitos de pano e outros materiais, foram criados e montados pela mãe de Thiérrée, Victoria Chaplin, que também é responsável pelo vestuário e outros curiosos objetos de cena.

Objetos criados por Victoria Chaplin, mãe do artista

A crítica francesa considerou Raoul um espetáculo “não classificável”. Uma etiqueta que James Thiérrée gosta muito. “Ser não classificável é ser você mesmo”, diz ele. E é muito difícil! É um belo elogio. No do trabalho em  Raoul, entrei um rapaz e sai um homem, um adulto mais consciente.”

Para Thiérrée, as viagens e apresentações nos últimos dez anos constituíram um período divertido de sua vida. Raoul foi visto nas principais cidades europeias, na Austrália, nos Estados Unidos e no Canadá – onde sofreu um acidente em cena e precisou parar de se apresentar por meses.

Dez anos de estrada navegando com Raoul

“São dez anos na estrada. Quando iniciamos a turnê eu tinha 35 anos, hoje estou com 45. Artisticamente, Raoul representa a conclusão de um capítulo da minha vida. Antes de Raoul, desenhei minha infância e adolescência para construir meus espetáculos. Quando você vê seus pais realizarem coisas mágicas, há a certeza de que você não pode escapar da aventura. Está destinado a viver os teus sonhos”, diz Thiérrée.

Raoul: destino de se viver os sonhos e coisas mágicas herdadas dos pais

Uma longa história da família na arte circense

James Thiérrée nasceu em 1974, na Suíça, filho de Victoria Chaplin e do ator e diretor Jean-Baptiste Thiérrée. O neto de Charles Chaplin cresceu em uma família envolvida no mundo das artes e vivendo nos bastidores do teatro. A família possuía uma companhia teatral que também contava com a participação de sua irmã Amelie Thiérrée, hoje atriz e com seu próprio grupo.

“Dificil criar amizades nessa vida, quando se troca de cidade continuamente, mas Roma representa a minha infância, o circo, a aventura dos meus pais, memórias de longas viagens pelas estradas da Itália. Na verdade, aprendi facilmente o italiano e, quando adolescente, chegamos à capital para a temporada nos Teatros Tenda e Vitória, tive mais tempo de visitar a cidade, foi um período maravilhoso e inesquecível.”

Os pais de Thiérrée são os fundadores do Cirque Bonjour e do Cirque Immaginaire. “Sempre me perguntei o que representa a arte teatral, o palco para a minha família. Hoje, eu respondo, com calma, acredito que simbolicamente seja como um lago onde se aprende a nadar, tem de aprender a nadar. Nas famílias de artistas, não há linhas genealógicas verticais, mas círculos, como ondas, e dentro estamos todos juntos, “molhados” entre lembranças do passado e projeções do futuro. Não sei me definir. Sou um pouco de tudo: ator, bailarino, coreógrafo, cenógrafo, acrobata, equilibrista, funâmbulo, palhaço e ator dramático.”

Em Raoul, Thiérée não para um minuto

Thiérrée não para, é inquieto, participa de várias formas de espetáculos, como circo e circo de rua, televisão, shows, cinema, teatro, entre outros. É reconhecido como um renovador do espetáculo circense.  “Falando de meu trabalho, muitas vezes uso o termo “novo circo”, isto por partir da pantomima, uma tradição antiga, ligada à dança que minha mãe me transmitiu, e do valor das artes circenses que aprendi com meu pai. Também estudei teatro e cinema no  Piccolo, de Milão.  Acredito que o palco é uma encruzilhada de culturas que não podem ser reduzidas a um termo.”

Chaleira e o chá em cena do espetáculo

 Carreira começou aos 4 anos no Cirque Bonjour

James Thiérrée iniciou a carreira de artista em 1978 quando se apresentou pela primeira vez no palco do Le Cirque Bonjour. A adolescência passou no Le Cirque Imaginaire, com o qual viajou pelo mundo.

Aos 24 anos, em 1998, fundou sua própria empresa teatral, La Compagnie du Hanneton, a quem emprestou seu apelido de infância. No mesmo ano, desenvolveu seu primeiro trabalho: The Junebug Symphony, premiado em todo o mundo – só na França ganhou quatro Prêmios Molière Awards.

Em 2003, dirigiu sua segunda ópera, La Veillée dês Abysses, seguida dos shows Au Revoir Parapluie, Tabac Rouge e The Toad knew. Em 2018 dirigiu e interpretou Frôlons, para a Ópera Garnier. Em seus shows, adora descrever o ser humano por meio de seus pesadelos, seus sonhos surreais, encontros, medos e desafios grotescos, engraçados e, às vezes, românticos. Thiérrée trabalha novos projetos de teatro com Carlos Santos e Beno Besson.

No cinema recebeu o Prêmio César pelo seu desempenho com o personagem  Footit, no filme francês Mister Chocolat,  de 2017,  dirigido por  Roschdy Zem,   que tem como  protagonista  o célebre ator  Omar Sy,  que interpreta  Chocolat,  palhaço da Belle Epoque. Thierrée é o co-protagonista do filme e faz o outro palhaço, George Footit.

Fotos/Divulgação

Legenda foto de capa: James Thiérrée no espetáculo Raoul

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