Charges contam o que foi notícia em 2019
Lisbeth Rodrigues da Cunha, jornalista, criou e assina a coluna Destaques que traz charges sobre os fatos que marcaram 2019 – o 1º ano do governo Bolsonaro. Veja os Destaques mês a mês.
JANEIRO de 2019
Aparece o Queiroz
Disputas entre Onix Lorenzoni, chefe da Casa Civil, e Paulo Guedes, ministro da Economia, ao lado de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, envolvido com movimentações atípicas em sua conta de 1,2 milhão de reais, marcam o início de 2019 na política. O caso Queiroz levou a crise para perto do presidente eleito Jair Bolsonaro, pai de Flávio. E o ministro Moro, da Justiça, afirma que não viu nada o que Queiroz fez ainda que o ex-assessor tenha dito em entrevista ao SBT que faz dinheiro.


Lama na alma: tragédia em Brumadinho
“No Brasil de 2019, os desastres da natureza não tiveram nada – rigorosamente nada – de natural. Em 25 de janeiro, a barragem de uma mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), de propriedade da Vale, se rompeu liberando um mar de lama composta de minério de ferro, argila e sílica, que provocou a morte de 257 pessoas.
Os bombeiros em busca dos corpos são os heróis da história em que não faltam vilões. Em 22 de dezembro de 2019, a Folha de S.Paulo informava que “Vale vai distribuir R$ 7,25 bilhões de remuneração a seus acionistas, valor acima do gasto em reparação pelo desastre que atingiu a cidade mineira”.




FEVEREIRO
Pit Bull no Laranjal
“Jair Bolsonaro costuma chamar o filho Carlos de ‘meu pit bull’. Em 13 de fevereiro, o cão raivoso voltou a morder o governo. O Zero Dois atacou o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno. Chamou o secretário de mentiroso. O tuíte de Carluxo abriu uma nova crise no bolsonarismo, escreve Bernardo de Mello, no Globo. O ministro já estava na berlinda desde que reportagens da Folha de S.Paulo revelaram um ‘laranjal’ nas campanhas do PSL.


De olho nos padres
Os olhos e as ações do governo se concentraram na Abin para vigiar o Sínodo da Amazônia, no qual, bispos de nove diferentes países analisaram as carências da região, a começar pela destruição do meio ambiente. “Num infantilismo cimento e caolho, essa reunião interna da Igreja Católica foi apontada pelo governo como ‘intromissão’ em assunto próprio do Brasil, desconhecendo que compartilhamos a Amazônia com outros oito países.”(Flavio Tavares, jornalista e escritor no Estadão)


Em nome do Senhor
Em fevereiro, antes de o Supremo Tribunal Federal começar o julgamento sobre homofobia e transfobia como crime de racismo, 22 parlamentares da bancada evangélica tiveram uma audiência com o ministro Dias Toffoli para pedir que o tema fosse retirado de pauta, informa a Revista da Folha. Apesar disso, o Supremo, em junho, analisou o assunto e sentenciou que é mesmo crime de racismo.

Ninho do Urubu
“A charge (abaixo) homenageia as vítimas do incêndio no Ninho do Urubu, o centro de treinamento do Flamengo, no dia 8 de fevereiro. Morreram dez atletas das categorias de base, garotos que dormiam em contêineres. A hipótese é que o fogo tenha começado após um curto-circuito no ar-condicionado de um dos dormitórios. Em junho, o ex-presidente rubro-negro Eduardo Bandeira de Mello e outras sete pessoas foram indiciadas pela Polícia Civil do Rio por dolo eventual (quando se assume o risco) nas mortes dos adolescentes.” (Folha)

Fora Temer
O ex-presidente Michel Temer foi preso em São Paulo, na quinta-feira, 21 de março, pela operação Lava Jato do Rio. Temer recebeu voz de prisão da PF quando saia de sua residência logo no início da manhã na rua Bennet, no Jardim Universidade, zona oeste da capital paulista. As prisões de Temer e dos demais alvos são decorrentes da operação Radioatividade, investigação que apurou crimes de formação de cartel e prévio ajustamento de licitações além do pagamento de propina a empregados da Eletronuclear.

MARÇO
O golpe de estado que instaurou a ditadura militar no Brasil em 1964 completou 55 anos, no domingo 31/3/2019. Após o ato, iniciou-se um regime de exceção que durou até 1985. Nesse período, não houve eleição direta para presidente. O Congresso Nacional chegou a ser fechado, mandatos foram cassados e houve censura à imprensa. De acordo com a Comissão da Verdade, 434 pessoas foram mortas pelo regime ou desapareceram – somente 33 corpos foram localizados.
Em pesquisa realizada pela Veja/FSB (11/12/2019), quase 80% dos brasileiros rejeitam o retorno do regime autoritário. Mas cerca de 40% acreditam que exista uma grande possiblidade que isso aconteça.

Dor do avô
O menino Arthur Araújo Lula da Silva, neto do ex-presidente Lula, morreu no dia 1º de março, no Hospital Bartira, da rede D´Or, em Santo André, de sepse (infecção generalizada).
Integrantes do Ministério Público Federal que integram a “Lava Jato” fizeram pouco do luto do ex-presidente Lula. É o que revelaram mensagens de chats privados no Telegram enviados ao site The Intercept Brasil e analisados em parceria com o UOL.
Lula teve autorização para ir ao enterro do neto e foi transportado por uma aeronave cedida pelo governo do Paraná.
“Na data, o procurador Deltan Dallagnol compartilhou com colegas uma notícia que revelava um contato telefônico entre Lula e o ministro do STF Gilmar Mendes em que o ex-presidente teria se emocionado.
“Estratégia para se ‘humanizar’, como se isso fosse possível no caso dele rsrs”, comentou o procurador Roberson Pozzobon.”

ABRIL
80 tiros em nossa consciência
“Onde estavam as bandeiras do Brasil no enterro do músico e segurança Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, fuzilado por soldados do Exército quando levava a família a um chá de bebê dominical. O Comando Militar do Leste primeiro disse que foi resposta a uma ‘injusta agressão’ de ‘tiros de criminosos’. Depois, a versão mudou. Foi ‘um engano’ porque Evaldo estava num carro igual ao de assaltantes. O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, chamou o fuzilamento de “acidente lamentável” e o ministro da Justiça, Sergio Moro, de “incidente trágico”.
Enquanto as autoridades não entenderem que são também responsáveis por gatilhos nervosos que matam inocentes, estaremos perdidos. Moro disse que ‘lamentavelmente esses fatos podem acontecer’. Não podem não, Moro. É bom explicar direitinho seu pacote anticrime que permite matar em situação de “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”. Os soldados podem alegar tudo isso. E aí?
Não se permitam esquecer do Evaldo, da viúva e de seu filho de 7 anos que viu o pai morrer…” (Ruth de Aquino em O Globo)

ABRIL
Nazismo de esquerda
Em viagem a Israel, depois do encontro com empresários, o presidente Jair Bolsonaro visitou o Memorial do Holocausto e, a exemplo do que fez o chanceler Ernesto Araújo disse que o nazismo foi um movimento de esquerda.
Mais tarde, perguntado se concordava com a opinião do chanceler Ernesto Araújo, de que o partido nazista de Hitler havia sido um movimento de esquerda, Bolsonaro respondeu:
“Não há dúvida. Partido socialista, como é que é? Partido Nacional Socialista da Alemanha”, disse.

Falta de educação
O colombiano Ricardo Vélez Rodríguez foi demitido da pasta da Educação em 8 de abril, após três meses de paralisia e polêmicas. Foi substituído pelo economista Abraham Weintraub. Em novembro, relatório de comissão da Câmara mostrou que a paralisia continua. A nova Política Nacional de Alfabetização ainda não saiu do papel. (Folha de S.Paulo).


“País é governado por um bando de maluco”
“O ex-presidente Lula afirmou nesta sexta-feira (26 de abril), em entrevista exclusiva concedida à Folha e ao jornal El País, que o Brasil está sendo governado por “um bando de maluco”.
Depois de uma batalha judicial na qual a entrevista chegou a ser censurada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), decisão revista na semana passada pelo presidente da corte, Dias Toffoli, o petista enfim recebeu os dois veículos, em uma sala preparada pela Polícia Federal na sede do órgão em Curitiba, onde está preso desde abril do ano passado.
O ex-presidente chorou quando falou da morte do neto Artur, de 7 anos, vítima de uma bactéria, há um mês: “Eu às vezes penso que seria tão mais fácil que eu tivesse morrido. Eu já vivi 73 anos, poderia morrer e deixar o meu neto viver”.
E comparou o tratamento que a imprensa dá a ele com o que reserva ao atual presidente da República. “Imagine se os milicianos do Bolsonaro fossem amigos da minha família?”, questionou, referindo-se ao fato de o filho do presidente, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), ter empregado familiares de um miliciano foragido da Justiça em seu gabinete quando era deputado estadual pelo Rio.”
A entrevista repercutiu aqui e no exterior. O Globo evitou o assunto. Mas, o cartunista Chico Caruso, do jornal, colocou Lula como Super Homem na cadeia.

MAIO
A exposição Direito do Avesso/Avesso do Direito, de murais de Laerte e Angeli sobre eleições, trabalho, saúde pública, educação, desigualdade, agrotóxico e cidadania toma a avenida Paulista.





JUNHO
Intercept Brasil e a Kriyptonita da Vaza Jato
“A KRYPTONITA que tirou parte da força e provocou o desmoronamento da imagem de um herói veio na forma de vazamento de mensagens do Telegram. Nos diálogos revelados a partir de junho pelo site The Intercept Brasil e analisados por veículos como Veja, o então juiz Sergio Moro orientava a inclusão de provas em processos da Lava-Jato, sugeria datas de operações, dava palpites em acordos de delação e cobrava celeridade em manifestações, em meio a outras demonstrações de parcialidade. Os procuradores seguiam as ordens e, entre uma e outra ação, faziam piadas e comentários constrangedores sobre os investigados. O chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, sofreu o maior desgaste. Soube-se que ele elaborava estratégias para atingir membros do STF contrários às teses de Curitiba, comemorava encontros com ministros mais simpáticos à causa (“Aha, uhu, o Fachin é nosso”, escreveu aos colegas após sair de uma reunião com o relator da Lava-Jato no Supremo) e ganhava dinheiro com palestras, inclusive de uma empresa sob a mira da Lava-Jato.
Entre julho e setembro, na Operação Spoofing, a Polícia Federal prendeu seis hackers responsáveis pela invasão. A Vaza-Jato, como o episódio acabou sendo apelidado, não chamuscou seriamente apenas a imagem dos envolvidos (mesmo contra todas as evidências, Moro e companhia fincaram pé na posição de não reconhecer a autenticidade dos diálogos).
O episódio fez virar os humores do STF contra a Lava-Jato, sendo o exemplo mais eloquente disso o fim das prisões após segunda instância, decisão que tirou o ex-presidente Lula da cadeia em novembro. Em 2020, a Segunda Turma do STF deve julgar, ainda sob o impacto das mesmas revelações, se Moro foi parcial na conduta dos processos contra o petista. O atual ministro da Justiça goza ainda de muita popularidade, mas não há como negar que o tiro de kryptonita provocou estragos – e mudou a história da Lava Jato.” (Veja – retrospectiva).




Faz falta


JULHO
Reforma da Previdência avança no Congresso
A reforma da Previdência avançou mais uma etapa no Congresso, mas com alterações significativas. O texto principal, que havia sido aprovado pelo plenário da Câmara dos Deputados na quarta-feira (10 de junho) e recebeu várias propostas de mudanças.
O Congresso acabou por promulgar no dia 12 de novembro a reforma da Previdência, quase nove meses após o governo federal entregar a proposta ao Legislativo.

AGOSTO
Amazônia em chamas
Os focos de incêndio na floresta Amazônica bateram o recorde dos últimos nove anos, com alta de 196% em comparação a 2018, em agosto. “Satélites da Nasa registraram o que estava acontecendo – e imagens da Amazônia em chamas rodaram o planeta, queimando o respeito que o Brasil havia conquistado pelo zelo com a região. A crise tinha começado em julho com a divulgação a divulgação de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que mostravam aumento no desmatamento da Amazônia – 278% em relação a igual período de 2018 –, o que provocou uma troca de farpas entre o presidente Jair Bolsonaro e o então diretor do órgão, o físico Ricardo Galvão. O resultado não poderia ser outro: o servidor acabou exonerado.” (Veja)
Entre agosto de 2018 e julho de 2019, o desmatamento da Amazônia aumentou 29,5%, segundo o INPE. Para o presidente Jair Bolsonaro “o interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da árvore, é no minério”.



SETEMBRO
Janot e a intenção de matar Gilmar Mendes
O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot disse na quinta-feira 26/9 à Folha que entrou uma vez no Supremo Tribunal Federal armado com uma pistola com a intenção de matar o ministro Gilmar Mendes, por causa de insinuações que ele teria feito sobre sua filha em 2017. “O ex-procurador narra o episódio num livro de memórias que está lançando neste mês, sem nomear Gilmar. Ele confirmou a identidade de seu alvo ao ser questionado pela Folha em entrevista nesta quinta”.


OUTUBRO
Óleo nas praias brasileiras
Manchas de óleo apareceram no litoral da Paraíba em 30 de agosto. Em seguida, atingiram todo o Nordeste e avançaram para o Sudeste. O governo demorou 41 dias para acionar o Plano Nacional de Contingência estabelecido em 2013 para fazer frente a casos de vazamento de petróleo. A responsabilidade não havia sido esclarecida até o fechamento desta edição. (Revista da Folha)

Daqui não saio …
A Lava Jato recomendou à Justiça a concessão da progressão de regime para Lula, mas o petista não aceitou deixar a prisão. Preferiu esperar o julgamento do Supremo Tribunal de Justiça.

NOVEMBRO
Lula Livre
O STF (Supremo Tribunal Federal) mudou de entendimento em 7 de novembro e vetou, por 6 votos a 5, a prisão de condenados em segunda instância. Em 8 de novembro, um dia depois que o STF fixou entendimento sobre a execução provisória, o ex-presidente Lula foi solto beneficiado pela decisão da corte. O petista, que foi detido após condenação em segunda instância, estava preso há 580 dias na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba.

Porteiro e o Seu Jair
Em depoimento à Polícia Civil, Aberto Jorge Ferreira Mateus, porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, no Rio, afirmou que, no dia do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, em março de 2018, um dos acusados pelo crime, o ex-policial militar Élcio Queiroz, parou na cancela do conjunto residencial em que ele trabalha e disse que ia à casa do ‘seu Jair’ – no caso, o presidente Jair Bolsonaro, morador do imóvel número 58. O ex-PM ia visitar Ronnie Lessa, outro denunciado pelas mortes, que vive no mesmo condomínio.”
Jair Bolsonaro, na ocasião, estava em Brasília. Mais tarde, o porteiro voltou atrás e afirmou que confundiu os números.
“Quando surgiu a ligação de seu nome ao assassinato de Marielle, Bolzonaro, em meio a compromissos no Oriente Médio, gravou uma live de madrugada para rebater a acusação com um destempero incomum até para quem não o equilíbrio como marca. Entre outras coisas, atacou a imprensa e o governador Wilson Witzel, a quem apontou como responsável por vazar o depoimento. Durante a crise, Sergio Moro, a mando de Bolsonaro, extrapolou o papel de ministro da Justiça ao intervir para que a Polícia Federal ouvisse de novo o porteiro.
O episódio se juntou a tantos mais que fizeram da busca pelos assassinatos uma das operações mais tumultuadas da história, com tropas de investigações, depoimentos falsos e obstrução de Justiça, entre outros. E até hoje não se sabe quem matou Marielle.” (Veja – edição 2667).

Não se assustem se alguém pedir o AI-5, diz Guedes
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta segunda-feira (25) que não é possível se assustar com a ideia de alguém pedir o AI-5 diante de uma possível radicalização dos protestos de rua no Brasil. Durante entrevista coletiva em Washington, Guedes comentava a convulsão social e institucional em países da América Latina e disse que era preciso prestar atenção na sequência de acontecimentos nas nações vizinhas para ver se o Brasil não tem nenhum pretexto que estimule manifestações do mesmo tipo.
“Sejam responsáveis, pratiquem a democracia. Ou democracia é só quando o seu lado ganha? Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo mundo para quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente? Levando o povo para a rua para quebrar tudo. Isso é estúpido, é burro, não está à altura da nossa tradição democrática.”
As únicas multidões que tomavam as ruas no Brasil quando Guedes falou do AI-5 eram de torcedores do Flamengo.

DEZEMBRO
Desemprego no vermelho

Retratos com cartuchos de bala
Em dezembro, o ministro da Justiça Sergio Moro e o presidente Bolsonaro ganharam obras como homenagens, feitas pelo artesão Rodrigo Camacho, a partir de cartucho de balas, até mesmo de fuzis. No caso do ministro o painel tem formado do rosto de Moro e as palavras Lava Jato. No caso do presidente tem o mapa do Brasil e o rosto de Bolsonaro. E o artesão também fez um mural para o novo partido de Bolsonaro, e quem sabe, de Moro: Aliança para o Brasil.

