Domingos Montagner foi um dos responsáveis pela renovação da palhaçaria três décadas antes de os jurados do Prêmio Shell decidirem que o título de melhor ator de 2008 seria compartilhado, de modo inédito, com dois palhaços: Domingos Montagner e Fernando Sampaio, em ‘A Noite dos Palhaços Mudos’. Montagner foi o sujeito versátil que falava de whisky e carregava as caixas da produção com a mesma simpatia, sempre. Foi o artista que se aprimorou na França, a bailarina, o galã, o Santo. Foi, sobretudo, um cara gente boa pra caramba, que deixou muitas saudades!
Fernanda Araujo, especial para o Panis & Circus
O livro Domingos Montagner – O Espetáculo não Para, de Oswaldo Carvalho, pela editora Máquina de Livros, conta a história do ator e circense que faleceu no dia 15 de setembro de 2016, na época em que gravava a novela ‘Velho Chico’. O lançamento da obra ocorreu no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente.
No Rio de Janeiro, dia 3 de maio, na Travessa Leblon, o evento contou com a presença de Luciana Lima, viúva de Montagner, e Fernando Sampaio, parceiro de palco e da vida, além diversos colegas globais, como Camila Pitanga e Lilian Cabral.
Na cidade de São Paulo, a noite de autógrafos ficou para o dia seguinte, no dia 4 de maio, no Teatro do Sesi, com apresentação gratuita do espetáculo ‘A noite dos palhaços mudos’, da Companhia La Mínima, trupe que Montagner fundou com Fernando Sampaio e que rendeu à dupla um inédito Prêmio Shell de melhor ator para dois palhaços.
Gabriel Leone, Denise Fraga e dezenas de amigos do circo e do teatro se reuniram para lembrar a memória do amigo.
No livro, o autor do livro lembra que Domingos aprendeu a arte da palhaçaria em 1989 com Roger Avanzi, o lendário Picolino II, e teve duas temporadas de treinamento com Leris Colombaioni, descendente de famílias de saltimbancos medievais, os Delacqua e os Travaglia. O pai de Leris, Nani Colombaioni, referência do teatro cômico mundial, prestou consultoria técnica para o filme “I clowns”, do diretor italiano Federico Fellini.
Na verdade, a biografia escrita por Oswaldo Carvalho traça um paralelo com o movimento circense e teatral em São Paulo nos anos 1990 e 2000. Dos tempos de Domingos na Pia Fraus, La Mínima, mas também da trajetória de outras trupes como Ornitorrinco, Parlapatões, XPTO, Nau de Ícaros, Acrobático Fratelli, além da herança do Circo Escola Picadeiro e do Circo Zanni.
Domingos Montagner foi o fundador da cia. La Mínima ao lado do mestre Fernando Sampaio. E juntos fizeram ‘À La Carte’ (2001); ‘Piratas do Tietê’, o filme (2003); ‘Reprise’ (2007); ‘A Noite dos Palhaços Mudos’ (2008), ‘O médico e os monstros’ (2008) e tantos outros trabalhos, como o memorável número de balé no quadro ‘Se Vira nos 30’, da Rede Globo.
Em 2004, com mais oito sócios (Bel Mucci, Erica Stoppel, Fernando Sampaio, Lu Menin, Maíra Campos, Marcelo Lujan, Nié Pedro, Pablo Nordio) criou o circo Zanni, com sua primeira apresentação, em Boicuçanga, litoral de São Paulo. Em uma de suas entrevistas, já como ator da Globo, Domingos disse que sua maior emoção – afora o nascimento dos filhos – foi a criação do Zanni. “Foi inesquecível”. (Leia reportagem do P&C abaixo).

Domingos em apresentação do Zanni e seus filhos- Leo de chapéu preto e Toti de blusa preta e calça vermelha / Foto Asa Campos
Domingos foi também professor de educação física, atendente de bar, assistente de almoxarifado, empreendedor, habilidoso ilustrador e cenógrafo.
Mas como ele virou galã da Globo, afinal? Montagner já tinha participado de filmes e seriados, mas foi Zeca Bittencourt, pesquisador de elenco da emissora que o encontrou. No camarim, ao vê-lo tirar a maquiagem, Zeca ficou espantado com o bonitão: “Você no palco parecia uma criança grande e agora estou vendo o nosso Russell Crowe”, disse Bitencourt, segundo o autor do livro.
O autor conta também que Domingos estava cansado de ser chamado apenas para papéis de galã na TV e, pouco antes de morrer, tinha acertado com o diretor Maurício Farias o seu primeiro papel cômico na emissora, no remake de “Shazan, Xerife & Cia”, infantil estrelado por Paulo José e Flávio Migliaccio, em 1972.
Foi um cara que deixou muitas histórias…
Se me permitem…. eu ainda me lembro do jeito admirado que Beto Andreetta me falou sobre o amigo Domingos Montagner, em uma tarde de 2014, no piso superior da casa de bonecos, na Rua Coriolano, para a matéria de capa do Divirta-se/Estadão sobre os 30 anos da Pia Fraus. “A gente ia para todo lado fazer apresentação. Era eu e o Beto Lima, e um espetáculo de baixíssimo custo. Quando a gente chegou em São Paulo, com ‘O Vaqueiro e o Bicho Frouxo’, fomos eleitos um dos cinco melhores espetáculos infantis. Nossa companhia chamava-se Beto & Beto, até que o Domingos se juntou a nós e trouxe um novo olhar para o teatro de bonecos. Ele disse que o grupo precisava de um nome mais forte, batizando a companhia de Pia Fraus – em latim ‘uma mentira contada com boas intenções’, que tem tudo a ver com a ficção que a gente conta. Essa (nova) sistemática foi fundamental para o sucesso grupo Brasil. Domingos era um cara inteligente, de visão”, lembrou Beto Andreetta.
Ah, Domingos, que saudade!!!
Serviço
Domingos Montagner – O espetáculo não para
De Oswaldo Carvalho
Editora Máquina de livros
Preço: R$ 69 (impresso) e R$ 49 (e-book)
Páginas: 352
FOTOS do lançamento do livro: Leo Franco
Relembre aqui outras matérias do Panis & Circus sobre o artista:Destaques
Legenda foto de capa –Lançamento do livro na livraria Travessa no Rio/Foto Leo Franco