
Da Redação
Sensível e sensual, Cachimônia, espetáculo da cia. Artinerant´s de Maíra Campos e Nié Pedro, artistas fundadores do Circo Zanni, apresenta-se ao vivo nesta sexta-feira, 22 de outubro, às 20 horas, no Sesc Jundiaí.
“Parafraseando o poeta, a vida é a arte do encontro com o público”, afirma Maíra Campos. Sem dúvida, “o público é a razão da nossa existência”, diz Nié Pedro.
Batida acelerada do coração e frio na barriga resumem a expectativa dos dois artistas na apresentação de Cachimônia no Sesc Jundiaí.
E como são apenas 66 lugares disponíveis, em razão da exigência do distanciamento social, é preciso agilizar a compra dos ingressos que estão sendo vendidos no Portal do Sesc.
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Cachimônia mistura circo, música, humor e artes plásticas para contar a história de um casal que vive no campo e participa de uma jornada de embriaguez dos sentidos.
Com duplo sentido, o título do espetáculo “Cachimônia” é um termo que remete à cachola (popular referência ao sofisticado intelecto ou à cabeça) e pode significar a paciência e o equilíbrio, no caso, a do casal ao enfrentar o cotidiano com seus altos e baixos, ou a coragem deles em virar esse cotidiano de ponta-cabeça com saltos acrobáticos e notas musicais.
Confira comentários de jornalistas, artista plástico, produtora cultural e escritora sobre Cachimônia.
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“Cachimônia condensa, de maneira muito original, o humor, a dança e as artes circenses. É um belo espetáculo”. Beatriz Antunes, escritora e editora.
“O cardápio de Cachimônia inclui elaboradas acrobacias no chão e sobre a mesa, um bailado à la Broadway, no qual o dueto se equilibra sobre sapatos de salto alto dignos de roqueiros da vertente heavy metal, e um solo de trombone de Nié como acompanhamento para evoluções de Maíra no solo, sobre uma pilha de cadeiras e garrafas de vidro de leite”. Dario Palhares, jornalista e artista plástico.
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“Em Cachimônia, o público assiste, como de uma janela, ao desenrolar de cenas tensas, bem-humoradas e afetuosas, que retratam com plasticidade a vida compartilhada de um casal ao mesmo tempo anônimo e universal.” Aline Araújo, redatora, editora e revisora.
“Com uma mistura de graça e sensualidade, o espetáculo Cachimônia protagonizado por Maíra Campos e Nié Pedro mostra as peripécias de um casal de acrobatas imersos num relacionamento intenso e cheio de reviravoltas.”
*Mariana Campos, jornalista e produtora cultural.
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Acrobacia com afeto e arte

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Por Aline Araújo*
Cachimônia é uma obra carregada de sentidos, natureza já indicada pelo título, que pode significar “cabeça” – lugar do pensamento e da memória – e “paciência”.
Os personagens, interpretados por Maíra e Daniel, passam a noite inebriados em uma casa de campo, em meio a sons de animais, jogos de cartas e garrafas de leite cheias de vinho; não há diálogos verbais, eles se comunicam por meio dos movimentos. O cenário, composto de uma mesa giratória, cadeiras e uma grande estrutura com fundo preto, abriga inúmeras possibilidades de transformação do ambiente doméstico em uma imagem surrealista, servindo de suporte para evoluções acrobáticas e números de equilibrismo. Com graciosidade e precisão, ela caminha sobre uma vassoura, garrafas de vidro e móveis, construindo uma metáfora vivaz dos desafios cotidianos. Ele, por sua vez, demonstra força e dinamismo em suas acrobacias, além de exercer liberdade e desenvoltura ao dançar usando botas de salto alto.
Em Cachimônia, o público assiste, como de uma janela, ao desenrolar de cenas tensas, bem-humoradas e afetuosas, que retratam com plasticidade a vida compartilhada de um casal ao mesmo tempo anônimo e universal. Ao transformarem a relação conjugal e as situações convencionais em jogos de equilíbrio, acrobacia e arte, a dupla da Cia Artinerant’s nos mostra, em um espetáculo maduro e dinâmico, que, com perspicácia, paciência e parceria, viver junto pode ser leve e bonito.
*Aline Araújo – redatora, editora e revisora de textos
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Embriaguez dos sentidos no risco e riso

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Por Beatriz Antunes*
Em Cachimônia, o casal se entrega a uma noite de embriaguez e delírio em sua casa no campo. Compartilham vinho em lugar de leite, que aparece nessa noitada como garrafas vazias, onde brincam de se equilibrar. Usando a linguagem mista que caracteriza a pesquisa da companhia, circo, dança, acrobacia, teatro e música dão contorno a uma atmosfera onírica em que o casal experimenta viver desejos confessados somente por conta da embriaguez.
A dança é o eixo em torno do qual se dá a interação de Maíra (Campos) e Nié (Pedro), os protagonistas. É o que se vê na cena em que Ela desconcerta o parceiro ao lhe dar de presente um par de botas brilhantes. (…) Depois de um arranjo rápido de cabelo e postura, eis que Ele se ergue ligeiro, e onde havia um corpo tímido e constrito, agora fica em pé um homem firme, consciente de cada músculo de seu corpo, Ele encarna a dança. Lado a lado e calçados em seus respectivos saltos, altíssimos por sinal, Maíra e Nié ficam de frente para o público e dançam. É dança, e também é circo, é equilíbrio e apoio, e nessa intenção narrativa estruturada em cena através da coreografia, o espetáculo condensa, de maneira muito original, o humor, a dança e as artes circenses.
*Beatriz Antunes – Editora autônoma e co-autora com João Bandeira de “De gatos e galáxias – Trajetória poética de Haroldo de Campos”
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Cachimônia mexe com as cabeças e corações

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Por Dario Palhares*
“Cachimônia” da Cia. Artinerant’s, poderia, perfeitamente, integrar mostras da produção teatral contemporânea. Protagonizado por Maíra Campos e Daniel Pedro, o Nié, o espetáculo promove uma feliz e original fusão de duas artes do passado: o teatro circense, uma das principais atrações dos picadeiros entre o século 19 e as primeiras décadas dos 1900, e o cinema mudo, que esteve em voga até o fim dos anos 1920. Como seu título indica, entretanto, “Cachimônia” (“cabeça” como “centro do intelecto”, segundo o “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”) provoca mais reflexões do que risos. A degustação da bebida é o ponto de partida da interação e das performances dos artistas: primeiro ao redor e sobre uma mesa giratória; depois em um bailado, ao som da valsa “Gramofon” (Eugen Doga), do qual “participam” braços e uma cabeça postiços, esta afixada no topo do chapéu de Maíra.
O recurso a acessórios e equipamentos originais é uma das marcas registradas da Artinerant’s. O destaque em “Cachimônia” fica por conta de uma grande estrutura metálica vazada, em formato de cubo, que se presta a vários fins. De início, a dupla se entremeia às tiras de tecido fixadas verticalmente na parte frontal da caixa para executar uma divertida coreografia do gênero “esconde e revela”, que traz à memória técnicas usadas no teatro negro de Praga. Mais à frente, a peça serve de suporte para exibições de arremessos de facas e de equilibrismo, a cargo de Maíra.
São as exibições conjuntas, no entanto, que compõem a linha mestra de “Cachimônia”. O cardápio inclui elaboradas acrobacias no chão e sobre a mesa, um bailado à la Broadway, no qual o dueto se equilibra sobre sapatos de salto alto dignos de roqueiros da vertente heavy metal, e um solo de trombone de vara de Nié como acompanhamento para evoluções de Maíra no solo e sobre uma pilha de cadeiras. A colaboração atinge o ápice durante a caminhada da equilibrista sobre garrafas de leite, cuja trajetória é “pavimentada” e suportada pelo dedicado parceiro. No fecho, ela interpreta ao megafone “Azul”, de Maria Tereza Lara, acompanhada por seu par ao trombone. A canção prossegue na voz de Natalia Lafourcade, que embala em blue a dança final do casal.
Dario Palhares é jornalista e artista plástico.
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Graça e sensualidade

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Por Mariana Campos*
Com uma mistura de graça e sensualidade, o espetáculo Cachimônia protagonizado por Maíra Campos e Nié Pedro mostra as peripécias de um casal de acrobatas imersos num relacionamento intenso e cheio de reviravoltas.
Na cena inicial, a trilha sonora melancólica e a luz vermelha logo criam o clima para um jogo provocante, um duelo de acrobacias e danças utilizando elementos como cartas de baralho, taças de vinho, pés, mãos e cabeças em compasso, denotam a intimidade e sincronia do casal.
A beleza e tensão continuam nas cenas de equilíbrio sob garrafas e cadeiras e salto alto, para enfim, dar lugar à uma das cenas mais intensas do espetáculo: um jogo de cena dramático onde a mulher usa todo seu poder de sedução para atraí-lo, enquanto ele simplesmente a ignora, la continua insistindo e se arrastando a seus pés e ele a atira pra longe, com frieza, numa demonstração da incerteza e instabilidade que muitas vezes domina os relacionamentos.
Porém num ímpeto de paixão, eles se reconciliam e encerram com um número gracioso de dança e acrobacias em dupla, traduzindo a esperança e a beleza dos recomeços. Merece destaque a trilha sonora, pensada por Fê Stock e Lu Lopes, cuidadosamente inserida nas cenas como um adendo às emoções interpretadas pelo casal, muitas vezes acabava por dar o tom das situações representadas e dialogar com o público, tanto quanto a performance dos artistas.
*Mariana Campos é jornalista e produtora cultural
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Sesc Jundiaí
Local: Teatro do Sesc Jundiaí – Av. Antônio Frederico Ozanan, 6600 – Jardim Botânico, Jundiaí – distante 56 km de São Paulo e o tempo estimado de percurso entre as duas cidades é de aproximadamente 40 minutos.
Dia e Horário – sexta-feira, 22 de outubro, às 20 horas
Ingressos à venda no Portal do Sesc