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Dario Palhares, especial para Panis & Circus *
Referência na acrobacia “mão a mão”, a Cia. LaMala, de Marina Bombachini e Carlos Cosmai, executou um tour de force da técnica, que ignora aparelhos e acessórios, na 6ª edição do Festival Internacional Sesc de Circo (CIRCOS) com a apresentação ao vivo, em 28 de agosto, de “Bloom – Caminhos e Encontros” (www.youtube.com/watch?v=dP6d9zgn6MQ). A produção, que marca as comemorações dos 15 anos de atuação do grupo, conta, além da dupla de fundadores, com mais cinco artistas: Jaqueline Macedo, Luka Ianchity, Nico Mancialez, Raphaela Olivo e Wesley Peixinho. Ao longo de 1 hora e sete minutos, o hepteto protagoniza uma maratona de números – vários deles de alta complexidade –, esbanjando vigor, preparo, humor e, sobretudo, graça.
Assim como boa parte da grade da recente versão do CIRCOS, “Bloom” não bebe apenas nas fontes circenses. O espetáculo, que faz referência às quatro estações do ano, estende mãos e braços, em particular, à dança contemporânea. Um dos pontos altos dessa intersecção ocorre no sexto bloco com a roda composta por Jaqueline, Marina e Wesley apoiada sobre os ombros de Cosmai, Luka e Raphaela, que marcam os passos de forma cadenciada, enquanto Nico executa um bailado à parte. No fim do esquete, os círculos inferior e superior se abrem e os artistas suspendem com as mãos as laterais de seus sarongues, formando um painel de estandartes.
A coreografia também dá o tom em apresentações de equilibrismo. No segundo bloco, por exemplo, Jaqueline executa uma longa caminhada, a partir dos bancos situados no fundo do palco, sobre costas, ombros, peitos e cabeças dos colegas, que, tão logo ficam para trás, colocam-se à frente da fila, dando sequência à trilha. À certa altura, postada sobre os ombros de Luka e Raphaela, ela converte os corpos da dupla em extensões de seus membros inferiores, como se fossem pernas de pau. No fecho, a moça retorna ao ponto de partida sem tocar o solo.
Avessa, por questão de princípio, ao uso de equipamentos de apoio e suporte nas exibições, a LaMala recorre à criatividade, “transformando” os corpos de seus integrantes em inusitadas ferramentas de trabalho. Outros exemplos, além das citadas “pernas de pau” de carne e osso, são troncos e membros utilizados como instrumentos de percussão, cordas para pular, camas elásticas, redes, trampolins e rolamentos. Estes últimos formam, no sétimo bloco, uma esteira humana sobre a qual Cosmai, deitado, sustenta o corpo ereto de Raphaela com as mãos. Assim que é expelido do “mecanismo” giratório, ele se levanta e ergue a parceira com os braços.
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Marca registrada do grupo, as acrobacias mão a mão pontuam todo o espetáculo. A técnica é empregada, entre outros itens, em rodopios, arremessos de corpos e como alicerce de ousados movimentos. Chamam a atenção, em especial, os vários exercícios em que artistas na base suportam, com os braços estendidos, os corpos de seus pares na vertical, de cabeça para baixo.
De forma absolutamente coerente com a proposta da companhia, a equipe encerra os trabalhos, claro, de mãos dadas. Depois de promoverem uma chuva de papel picado, os membros da trupe formam uma roda e dançam em torno de uma cesta de retalhos, celebrando a chegada próxima da primavera. Uma justa e alegre comemoração, também, de uma soberba performance coletiva.
*Dario Palhares é jornalista e artista plástico com trabalhos em dobradura de papel