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Grock coloca a peruca de palhaço…
… em cenas captadas pelo documentário suíço…
… que mostram a preparação para entrar em cena…
… e com a pintura e o riso em cartaz

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Documentário relembra a vida do lendário palhaço suíço Grock

Ivy Fernandes, de Roma

A Rádio e Televisão Suíça lança documentário para homenagear o suíço Adrien Wettach, o lendário e polêmico palhaço Grock, que no século 20 foi um dos maiores expoentes da arte circense no mundo.

Versátil, gênio da palhaçaria, Grock se destacou por suas múltiplas capacidades como músico, cineasta e empresário.

Agora, em que se celebra os 131 anos de nascimento da lenda circense, a Televisão Suíça lança o documentário “Grock – Shadows and Lights of a Legendary Clown”  (Grock – sombras e luzes do legendário palhaço), de Alix Maurin e Fabiano d’Amato.

O documentário apresenta a vida do maior entre os maiores palhaços do mundo. Se politicamente apresentava comportamento polêmico, no palco seu talento era unanimemente reconhecido. Na segunda grande guerra, por exemplo, Grock se apresentou na Alemanha a convite do líder nazista Joseph Goebbels, mas também para a família real inglesa e o primeiro-ministro Winston Churchill.

Cenas do documentario

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Quando questionado sobre sua ambígua posição, dizia: “Eu sou suíço, portanto sou neutro e a arte não conhece fronteiras.”

Um dos segredos de Grock, segundo o documentário de Aliz Maurin e Fabiano d’Amato, é que ele era o primeiro a se divertir com as palhaçadas que fazia e transmitia ao público. Daí o sucesso tanto nos palcos europeus quanto nos das Américas.

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Cena do documentário que exibe o sucesso de público de Grock 

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A família

Wettach nasceu em uma família de classe média suíça. Seu pai era um relojoeiro. Ele teve três irmãs e um irmão. A família tinha paixão por música. Com boa instrução, aos 13 anos se apresentava com seu pai em pequenos espetáculos de inspiração circense nos cabarés da época.

Grock era um típico suíço funcionava como um relógio: paciente, minucioso, organizado, programado e meticuloso. Constumava dizer: “Ninguém se torna palhaço de um dia para o outro. É preciso começar jovem, saber saltar, montar a cavalo, estudar música, fazer mímica e ser um bom acrobata.”

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Uma vida de aventuras

A genialidade do palhaço suíço faz o público rir destaca documentário

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O documentário parte do início do século 20, em 1903, quando Grock, com 23 anos, chega à Hungria. Durante o trabalho com o clown (palhaço) Brick, desenvolve interesse por música. Dali vai para Paris e se apresenta no Circo Medrano, ao lado do palhaço Antonet.

Nessa época, palhaços não eram considerados “artistas”. Eram usados em cena entre um quadro e outro somente para distrair o público. Grock queria mais, desejava entrar em cena e dominar o espetáculo, circular e brilhar.

Em 1909 passeando por Paris, se apaixonou por um carro de luxo enorme, com capota. Não teve dúvida, comprou o carro e passou a usá-lo todo aberto para fazer sua publicidade. Com ele, percorria Champs Elysee, Montmartre, Montparnasse, despertando a curiosidade. Um palhaço no volante, venha rir comigo era o slogan usado para chamar a atenção do público e da imprensa.

De Paris saltou para Berlim. Foi trabalhar como músico com o artista Geo Lolé. Nessa época Grock já dominava 24 instrumentos musicais, mas seus favoritos eram piano, violino e saxofone. Em 1914, durante turnê na Rússia, foram pegos pelo início da 1.ª Guerra Mundial. Mais do que depressa, Grock foi para Londres, onde se refugiou do conflito.

Na cidade inglesa, dedicou-se à carreira de compositor e música. Tornou-se sócio de uma editora que passou a publicar suas partituras. Não usava agentes. Se ocupava dos contratos e conseguia sempre alcançar seus objetivos artísticos e financeiros. “Tudo o que é raro é caro”, dizia. Sabia se vender. Se transformou no palhaço e músico mais bem pago da época.  Sua popularidade cresceu tanto que virou até publicitário. Fez campanha para convencer os britânicos  a comprar  títulos do Tesouro para  financiar  a guerra. Enriqueceu.

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Itália se transforma em segunda pátria

Mansão do palhaço suíco na Itália onde é hoje o Museu Grock/Divulgação

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O suíço Adrien Wettach, também conhecido como o palhaço Grock, se casou duas vezes. Aos 23, com Louise Bullot. O relacionamento não durou muito. Cinco após a separação, em 1908, ele conheceu o grande amor da sua vida, a cantora italiana Inês Ospiri.

Ao ser levado para conhecer a família da mulher na cidade balneária, na Riviera Ligure, perto de Gênova, as cores do mediterrâneo e a bela paisagem ganharam seu coração.

Em 1920 comprou um terreno e construiu uma mansão. Foi nesse local que passou grande parte da sua vida. E é nessa casa que hoje funciona o Museu Grock, que tem por objetivo divulgar a sua arte às novas gerações

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Uma investida na cinematografia

Chaplin visita Grock em seu camarim…
… e o beijo no amigo de palhaçaria

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Com o sucesso do inglês Charles Chaplin, que monopolizava plateias. Grock resolveu tentar o cinema. Investiu grande parte do seu patrimônio e, em 1930, realizou seu primeiro filme como protagonista, produtor e diretor. O nome era “Grock, a vida de um grande artista”.

A película era sobre a vida privada dos palhaços e foi rodada em sua maior parte no seu castelo da Riviera italiana, uma residência à imagem de seu excesso, com plataformas e esculturas e retratos em uma apoteose de auto celebração… O filme foi um fracasso que quase o levou à bancarrota.

E em 1953, quando estava em turnê na sua terra natal, fez uma etapa na cidadezinha de Vevey, onde morava Charles Chaplin com a sua grande família.  Os dois que nunca foram rivais, se encontraram e se abraçaram e este foi um momento inesquecível para vida de ambos.

A sua  despedida da vida artística foi  em  Hamburgo, em 1954, aos 74 anos. Grock escreveu vários livros, entre eles sua autobiografia, Die Memoiren des Königs der Clowns (1956; Grock, Rei dos Palhaços). Suas performances foram preservadas em três filmes de 1927, 1931 e 1949.

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Saindo do camarim no documentário…
… caminhando na rua com os amigos

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Os anos ambíguos em Berlim

Berlim era para Adrien Wettach, o Grock, a sua casa. Suíço, dominava bem a língua. Estava bem na Alemanha. Dizia que seu melhor público era o alemão.

Grock não se interessava por política. Portanto, não se importava com as ações do nacional-socialismo. Seu objetivo, afirmava, era se apresentar em um palco não importava em qual contexto. Ingênuo ou oportunista? 

O fato é que na Mercedes negociou em uma mesa com um símbolo nazista. Aceitou carro da empresa, que se tornou sua patrocinadora. Já em 1939, mantendo boas relações com o regime, aceitou a demanda do nacional-socialismo e apresentou “certificado de raça ariana”.

Com a explosão da 2.ª Guerra Mundial, Grock voltou à Itália e se isolou na sua casa em Ligúria. Em 1942, recebeu convite e aceitou  participar do programa La Force de la Joie (A Força da Alegria) e se apresentou em Berlim diante dos soldados feridos e dos operários que se ocupavam dos armamentos. Dois anos antes havia realizado, a convite de Joseph Goebbels um espetáculo para soldados alemães em convalescença  na região da Riviera italiana.

Em 1945, com fim da guerra, suas relações com o Terceiro Reich foram denunciadas por meio de um desenho na primeira página do jornal satírico Bernês “Bärenspiegel”. Wettach continuou repetindo que era suíço e nada tinha a ver com política.  Em suas memórias, publicadas em 1946, ele afirmou ter-se apresentado somente diante dos feridos. Negou ser anti-semita.

Com o fim de conflito armado e após uma turnê em Nova York, Grock retorna à Europa. Em 1951, ele fundou o Circo Grock com várias inovações, como uma arena giratória que permitia ao público apreciar o espetáculo de todos os pontos do picadeiro (chapiteau).

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Close de Grock no documentário feito em sua homenagem

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Filmes sobre Grock 

Legenda Foto de capa – Cena do documentário suíço que homenageia Grock

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