Pular para conteúdo principal

 

Apresentação da BIAC – Bienal Internacional das Artes Circenses  

Ivy Fernandes, de Roma

 A parceria bem-sucedida entre o Polo do Circo Archaos e a Fundação BNP Paribas permitiu que a força da arte circense driblasse a Covid-19 e fosse vista na 4.ª Bienal das Artes do Circo 2021, realizada tradicionalmente na cidade de Marselha e em outras regiões da Costa Azul na França.

De 21 de janeiro a 21 de fevereiro, a Bienal apresentou espetáculos em locais fechados e abertos em cidades como Cannes, Avignon, Aix-en- Provence, Frejus, Draguignan e Nice e em mais de 50 locais, como o Teatro Nacional e o Museu da Civilização da Europa e do Mediterrâneo. A lona principal ficou na orla marítima de Marselha.

.

Le Village Chapiteau (lona) na orla marítima de Marselha/Divulgação  

.

Atraídos pela chance de se apresentar depois de um ano de inatividade por causa da pandemia, mais de 120 artistas das mais diversas regiões da Europa e de outros continentes se deslocaram para a costa francesa para apresentar 78 espetáculos diferentes, incluindo 37 criações. Entre os participantes estavam Joaquim Medina Caligari do Uruguai, Tasha Petersen e Valentino Martinetti da Argentina.

.

Cena do espetáculo Yin Zéro, da Cie. Monad / Divulgação

.

O desafio

Foi um grande desafio a montagem do evento, conta a brasileira Raquel Reche que, com Guy Carrara, seu marido, dirige o grupo Archaos, responsável pela Bienal. Para Carrara, o mercado internacional do circo não pode parar. “E isso pôde ser visto pela grande participação de diversos artistas. A Bienal atraiu 650 profissionais”, ressalta.

Foram meses estudando como adaptar nossos desejos às determinações da área de saúde francesa, conta Raquel. “Com a ajuda da prefeitura de Marselha preparamos 120 protocolos com mais de 270 páginas determinando o que e como fazer para apresentar nossa arte sem risco nesta pandemia”, explica.

A proposta aceita pelas autoridades francesas foi a da apresentação dos shows para um número reduzido de pessoas composto por empresários, especialistas, profissionais do espetáculo, sem bilheteria (‘sem público’). A ideia de promover uma bienal nasceu em 2010, mas só começou em 2015. “Era importante dar um sinal de presença constante do circo”, explica Raquel.

.

Bailarinos de ponta cabeça… 

… e no ar durante a bienal 

.

Medidas de segurança: ninguém pegou covid

As apresentações foram ao vivo com as pessoas bem distantes umas das outras. Os convidados passaram por controle de temperatura, tiveram de usar máscara e álcool gel para higienizar as mãos. Os artistas também foram submetidos a testagem e controles diários, mas durante os espetáculos não utilizaram máscaras. O resultado foi um sucesso também na saúde, dizem os organizadores. “Nenhum dos participantes, empresários ou artistas, apresentou, após o evento, contaminação pela Covid 19.”

.

 Espetáculo Parallèle 26, da cias. Archaos e Guillermini, na BIAC 2021 – Bienal de Artes Circenses, na França  

.

Fundação Paribas apoia 31 grupos na França

O representante da Fundação BNP Paribas Jean-Jacques Goron disse que a direção da instituição decidiu no ano passado, quando do começo da epidemia, manter neste ano o patrocínio e apoio a 31 empresas culturais. “Pensamos em até mesmo doar 10 mil euros adicionais a cada um desses grupos, num total de 310 mil euros”, explica o executivo.

No caso do grupo Archaos, responsável pela Bienal, que teve a sua primeira edição em 2015, os organizadores do evento fecharam um acordo por quatro anos com o patrocínio no valor de 240 mil euros.

O apoio da fundação foi muito importante para o grupo Archaos, conta Raquel. “A situação atual está muito difícil na França, um dos países europeus mais prejudicados pela epidemia. Os artistas estão atravessando esta fase com enormes preocupações, sem previsão de quando poderão voltar a trabalhar. Aqui a ajuda mensal para desempregados é cerca de 1.200 euros, mas a vida é caríssima.”

.

Casal dedica a vida à arte

Raquel Reche e Guy Carrara, do grupo Archaos, responsável pela Bienal / Divulgação 

.

A carioca Raquel Rache de Andrade conheceu Guy Carrara nos anos 1980 no sul da França e há mais de 30 anos estão casados tocando inúmeros projetos do grupo Archaos.

Atraída pela arte circense, Raquel resolveu deixar o curso de Economia no Rio e se inscreveu na Escola de Artes Circenses, em acrobacias aéreas. “Em 1986, decidi fazer um curso de circo em Paris, na Academia Fratellini, Escola de Arte Saint Denis. Foi tudo bem, mas acabei voltando para o Brasil. Paris era caro demais, frio demais e as pessoas fechadas demais”, explica em entrevista a Panis & Circus.

Algum tempo depois, Raquel resolveu retornar à França. Mas, desta vez, para o sul, na região da Costa Azul.  “Em 1988 conheci o meu futuro marido, Guy Carrara, diretor teatral, artista e fundador do grupo Archaos. Neste ponto a minha vida francesa engrenou. Guy se dedicava ao teatro, mas era aberto a todo tipo de arte e aceitou os meus projetos de espetáculos circenses. Ambos tínhamos o mesmo desejo de misturar um circo inovador com a dramaturgia teatral.

.

.

Fizemos inúmeras turnês na Europa, Austrália, Itália, Espanha.  Passamos oito meses por ano  viajando”, conta a artista.

Segundo Carrara, foi quando encontrou Raquel que se interessou pelas artes circenses. “Foi o início de uma nova aventura artística e pessoal com espetáculos de shows de rua, dança e novas experiências. Conheci alguns artistas de circo incríveis, mas um pouco loucos.  Éramos jovens, ousados e amávamos as novas experiências no mar aberto das artes criativas. Atravessamos o Canal da Mancha, mas na Grã-Bretanha nos proibiram de atuar sob o pretexto de que havia sexo e violência em nossos espetáculos…”, relembra.

Mais tarde, Raquel e Carrara criaram a escola circense do grupo Archaos. “Temos alunos provenientes de todo o mundo, conta Guy. Criamos um diploma com cinco anos de ensino superior e também inventamos este novo festival de circo contemporâneo: a Bienal Internacional de Artes Circenses que lançamos em 2015.  O nosso  empenho  neste trabalho foi muito divulgado, e encontramos  um  patrocinador importante como o Banco Paribas.”


.

.

Cidades no sul da França que receberam a Bienal  

.

Legenda foto de capa – Espetáculo Ethter, da cia. Libertivoire, em Draguignan, sul da França /Divulgação  

Deixe um comentários