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Luciana Gandelini, especial para Panis & Circus
O circo Zanni recebeu o aplauso do respeitável público mascarado, no sábado dia 14, às 16h30, no palco do Sesc Dom Pedro II, localizado no bairro do Brás, em São Paulo.
A volta do Zanni às apresentações presenciais ocorreu nos dias 7 e 8 deste mês nesse mesmo palco, em meio protocolos de seguranças – como a testagem da equipe antes de cada apresentação. Com a iniciativa de convidar o Zanni para abrir a temporada do Circo no Parque ao vivo, o Sesc reconhece a importância de uma das mais emblemáticas companhias da atualidade, conhecida pelo vigor de seus artistas em cena e pela excelência na realização de diferentes técnicas circenses.
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Para o Sesc, o retorno dos artistas ao palco é mais um passo do comprido sapato do palhaço na direção do “calor da plateia, em um picadeiro um pouquinho diferente (obedecendo os protocolos municipais e estaduais de segurança e saúde), mas de onde se pode ouvir os aplausos, como antigamente”.
Confira abaixo a entrevista ao Panis & Circus de Bel Mucci, Érica Stoppel, Lu Menin e Maíra Campos, parte da linha de frente feminina do Zanni, sobre a sensação do retorno ao contato com a plateia, agora submetido a novas regras para evitar a Covid.
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Panis & Circus: Como foi abrir a temporada da volta do Circo ao Vivo no Sesc/SP depois de oito meses distantes do público?
Bel Mucci: Muita emoção em reunir toda a equipe novamente para realizar o nosso trabalho e por voltar a atuar em um palco para um público presencial, ainda que com muitos cuidados e respeitando as restrições. Para o espetáculo deste fim de semana, ainda esperamos a testagem para a Covid, o que provoca um adicional de adrenalina que já foi sentido na semana passada e vai acontecer agora novamente. Esperamos que todos estejam saudáveis para participar novamente do encontro com o público neste sábado.
Érica Stoppel: Para mim, depois de tantos anos de profissão, a volta ao palco foi marcada pela redescoberta de um espaço há muito conhecido, do qual fiquei distante nestes últimos meses, e pelo desafio de comprovar que somos capazes de realizar um belo espetáculo. Depois deste longo período em que ficamos impedidos de nos apresentar, você fica com muitas incertezas, receios. O público estava a cerca de dois metros da gente. Mas, ainda assim, você precisa estar sempre atento e aberto a improvisar. Em um dos números esse afastamento foi quebrado. Foi quando o Nié fez uma queda do palco para a plateia e, ao retornar para o espaço, os integrantes do grupo já estavam a postos e passaram álcool em gel nas mãos dele. Deu para ouvir as crianças rindo daquele movimento, o que me fez pensar que precisamos mesmo entender e lidar com a situação do momento, isso nos aproxima.
Lu Menin: Foi uma grande honra para o Zanni, uma enorme responsabilidade diante desta missão do retorno ao presencial e deste reconhecimento vindo do Sesc. A imagem que guardei foi a de ver o público naquela disposição totalmente diferente. Todos usando máscaras. É muito forte. Você não consegue ver as reações, se a pessoa está rindo, falando. Mas aí você é surpreendido com reações como a das pessoas se levantando, dançando, aplaudindo de pé, saindo do lugar do desespero e da desesperança. Apresentar nossa arte para elas neste momento tão obscuro é lindo, um lugar para se estar. Foi de lavar a alma.
Maíra Campos: Foi uma experiência muito significativa. Sentimos uma responsabilidade grande em estar representando a classe artística. Apesar de ser um momento delicado, seguimos todos os protocolos de segurança e higiene (como máscaras e viseiras de acrílico) e o Sesc Parque Dom Pedro II, além de ter um espaço físico privilegiado, nos acolheu profissionalmente muito bem, de acordo com os protocolos exigidos. Essa segurança, muito bem pensada para o momento que vivemos, nos deu tranquilidade. O público ficou com um distanciamento social bem apropriado.
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Panis & Circus: Daqui para frente como vai ser? Um misto de conexões on-line com o público e espetáculos ao vivo respeitando todos os protocolos de segurança?
Érica Stoppel: Acho que caminharemos sim para propostas híbridas, como apresentações na rua e outras em locais fechados, com menos público do que normalmente são capazes de receber. Durante a pandemia mantivemos uma relação intensa com o público no ambiente virtual, demonstrando nosso histórico, realizando atividades on-line, lives, entre outros. Acredito que principalmente o nosso público de Cotia também está ansioso por esse reencontro.
Maíra Campos: Tentaremos ao máximo ser responsáveis, adotando todos os protocolos de segurança na relação com o público e entre nosso pessoal e com nossos equipamentos. Faremos testagem sempre um dia antes da apresentação. Como só podemos atender 40% da capacidade de público, respeitando os protocolos de distanciamento, faremos também transmissões on-line.
Bel Mucci: Nossos planos ainda priorizam recomeçar atividades formativas na lona. No segundo semestre devemos retornar a fazer espetáculos presenciais do Circo Zanni abrindo a programação da lona para outros espetáculos. As atividades formativas podem ser adaptadas ainda para o formato on-line.
Lu Menin: Ainda é uma grande incógnita. Talvez a retomada seja com apresentações ao ar livre, um tempo ainda com muitas coisas on-line. Muitos formatos híbridos durante essa que eu entendo como uma nova era. Acho que as pessoas estão sedentas por arte, entretenimento, e querem o contato, mesmo com tudo isso que estamos vivendo agora. Então acredito que para as apresentações presenciais será sempre esse misto de sentimentos. Transitando pela alegria de reencontrar o público, mas com muito cuidado e precaução.
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Panis & Circus: O atual período de isolamento provocou transformação em alguns pilares do processo criativo/artístico?
Maíra Campos: Eu senti uma necessidade muito grande de manter o condicionamento físico, o que me ajudou a ter disciplina de treinamento, preparação e alimentação. Em razão de alguns projetos que tinham sido contemplados no ano anterior, a criatividade foi estimulada. Foram encontros de troca com outros artistas em que nos instigamos a fazer produções para o audiovisual. O que não substitui o ao vivo, mas trouxe estímulos a partir de recursos que fomos descobrindo nesse processo. Eu sinto que adaptações e o reinventar vão fazer parte da nossa rotina. Espero que o circo e todas as artes consigam superar esse desafio e encontrar nele novas possibilidades.
Bel Mucci: O núcleo de aéreos, iniciado no projeto Segue Zanni de fomento ao circo, continuou com encontros semanais. Seguimos discutindo, experimentando e criando em aéreos, na situação de isolamento cada artista em sua casa e trabalhando com o recurso da câmera e do vídeo. É um processo de aprendizagem do fazer artístico que estamos pesquisando e aprendendo. Além disso, tenho feito aulas de violoncelo on-line. Estou aprendendo a tocar um instrumento novo e isso tem sido maravilhoso. Minha pesquisa de doutorado segue também, tenho feito algumas matérias on-line e lido bastante. A pesquisa é sobre as performances circenses femininas em uma perspectiva histórica.
Lu Menin: Eu me redescobri de todas as formas. Meu espetáculo solo por exemplo (um trabalho além do Zanni) foi levado para o quintal e dentro de casa. Processos artísticos que interferiram na relação crianças-casa. Conseguimos uma dinâmica respeitosa com as crianças e elas conosco (eu e Pablo). Coisas como “mãe você está em live, vou falar baixinho”, “mãe você vai ensaiar no quintal, então vou ficar aqui”. Eu acabei conseguindo ministrar aulas on-line, vendo que sim, é possível. Redescobri várias potências e descobri a alegria de perceber essa nossa capacidade de adaptação, que acabou nos mantendo ativos em nossa profissão. Continuo acreditando que a arte transforma, ilumina por onde passa, é um alento tanto para nós, como ofício, quanto para quem assiste.
Érica Stoppel: Foram grandes descobertas durante o período de isolamento, desde dar valor ao que realmente interessa a desfrutar da oportunidade de estar em casa para revisitar trabalhos já realizados. Eu adorei a possibilidade de fazer aulas de yoga com uma professora da Argentina, por exemplo. Descobrir a possibilidade de ministrar aulas on-line para processos criativos, algo que eu imaginava não ser viável, e a possibilidade de participar de mais reuniões por não precisar perder tempo de deslocamento. Agora, o calor do encontro, de estar junto no circo, é inigualável. Nós, seres humanos, gostamos do quentinho, do abraço, do encontro. Com certeza todo mundo vai querer estar dentro da lona vibrando essa energia.
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Serviço
Circo Zanni
Local: Sesc Parque Dom Pedro II – Praça São Vito, s/n – Brás – São Paulo.
Dia: 14/11, às 16h30
Criado em 2004 por Isabella Mucci, Fernando Sampaio, Marcelo Lujan, Pablo Nordio, Luciana Menin, Erica Stoppel, Maíra Campos e Daniel Pedro, além do saudoso Domingos Montagner, o Zanni é um grande espetáculo de variedades, descreve o Sesc. Formado por diferentes grupos circenses atuantes na cidade de São Paulo, a companhia transita pelo circo clássico e o contemporâneo, com números aéreos, de acrobacia, equilíbrio e magia, além, é claro, de palhaçaria.
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Apesar da gratuidade do espetáculo. O Sesc Dom Pedro II receberá um número limitado de pessoas. Os ingressos começaram a ser ofertados na terça-feira, dia 11, apenas quatro por CPF, pelo www.sescsp.org.br/parquedompedro, para o espetáculo desse sábado, 14/11.
Antes dos espetáculos será realizada a leitura óptica das entradas e a aferição de temperatura corporal. O público também deverá passar sobre tapete sanitizante e realizar a higienização das mãos, nos totens disponibilizados logo na chegada ao espaço. Depois disso, as pessoas serão direcionadas, de forma organizada, para as demarcações que, até então, eram utilizadas para delimitar o espaço dos veículos no drive-in, assim como para os novos “quadrados” com espaços individuais e duplos.
Vale lembrar que o uso de máscara será obrigatório ao longo de todo o período de permanência na unidade e que a circulação do público será permitida apenas para o uso do banheiro (depois de contato com a nossa equipe via WhatsApp e a devida liberação) e para a compra de itens na cafeteria antes do início do espetáculo. Para evitar aglomerações, apenas uma pessoa da família poderá se dirigir à cafeteria que, neste momento, contará com um cardápio reduzido, servindo apenas bebidas frias e pão de queijo.
Arena Circus
Dias: 21, 22 e 28
Ingresso: Podem ser retirados no dia 17 a partir das 17 horas no endereço sescsp.org.br/parquedompedro
Inspirado nos grandes espetáculos do teatro de revista, Magnific, que será apresentado no picadeiro do Sesc Parque Dom Pedro II pelo Arena Circus, grupo fundado pelos acrobatas Viviane Rabelo e Alfredo Muñoz, vai mostrar uma série de números clássicos do mundo do circo, com abertura de corpo de baile, artistas e cenário inovador, mas mantendo a nostalgia, a arte e a alegria.