Sexta-feira: 11.1.2019
Folha de S.Paulo – Dra. Rosangela Moro, chega de mimimi
Raquel Landim
Advogada fez post no Instagram pedindo que as pessoas parassem de reclamar
Na terça-feira (8) à noite, Rosangela Moro, esposa do ministro da Justiça, Sérgio Moro, fez um post no Instagram pedindo que as pessoas parassem de reclamar e esperassem para ver a que veio o novo governo.
Em tom patriótico, a advogada dizia que os brasileiros precisam se conscientizar que somos um só povo para permitir o avanço do país. E completava: – “chega de mimimi, espere e assista”.
O apelo de Rosangela faz eco ao dos demais apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL) nas redes sociais, que enxergam qualquer notícia negativa sobre a nova administração como uma torcida contra o país.
A esposa de Moro não revelava no post, mas provavelmente ela se referia naquele momento a confusão sobre o aumento da alíquota do IOF: o presidente disse que o imposto havia subido, mas foi desautorizado por um subordinado.
É verdade que o novo governo só tem 15 dias, mas depois dessa vieram muitas outras: redução do imposto de renda que não ocorreu, o vai e vem sobre a venda da Embraer, a não confirmada idade mínima da reforma da Previdência, o presidente demitido da Apex que se recusa a deixar o cargo. E isso para ficar só na economia.
Rosangela Moro me fez lembrar Dilma Rousseff – isso mesmo, a ex-presidente petista. Na campanha de 2014, Dilma não perdia a oportunidade de atacar os “pessimistas”, aqueles que “torciam contra o país”, os “arautos da crise”.
A economia já dava todos os sinais de que caminhava para uma severa recessão, mas a então mandatária se recusava a admitir o óbvio e se defendia, acusando os críticos de não serem a favor do Brasil. Deu no que deu.
É claro que o Brasil hoje vive outro momento. Bolsonaro tem os mercados a seu favor, ainda na expectativa de que sua equipe de liberais consiga implementar as reformas que o país tanto precisa.
Mas apontar os problemas não é antipatriótico. Chama-se fiscalização e é o trabalho da imprensa. É bom os bolsonaristas já irem se acostumando. Depois da repercussão do post, a esposa de Moro apagou a publicação – ainda bem. Afinal, Dra Rosangela, chega de mimimi.
Sexta-feira: 11 de janeiro de 2019
Folha de S.Paulo – Filho de Bolsonaro propõe revisão histórica sobre ditadura em livro didático
Declaração ocorre em meio a recuo do governo federal em edital de obras escolares
Após o Ministério da Educação anular um polêmico edital de livros didáticos, o presidente, Jair Bolsonaro (PSL), e seu filho deputado, Eduardo, fizeram publicações nas redes sociais em que atacam supostas doutrinações de esquerda na educação e em materiais escolares.
O presidente compartilhou mensagem de um usuário citando que há “picuinhas com as decisões” do presidente sobre educação enquanto publica imagens de materiais que tratariam o socialismo de forma positiva. Já o filho propõe revisionismo histórico sobre ditadura e chama ex-combatentes de esquerda de assassinos.
Bolsonaro já defendeu a tortura e disse que o regime militar entre 1964-1985 no Brasil não foi uma ditadura, o que contraria os fatos históricos. O presidente apoia o movimento Escola sem Partido que tem entre suas premissas mostrar os supostos dois lados dos conteúdos ensinados na escola.
Eduardo Bolsonaro publicou no Twitter mensagens em que afirma que a ditadura militar é mal retratada pelos livros didáticos. “Um povo sem memória é um povo sem cultura, fraco. Se continuarmos no nosso marasmo os livros escolares seguirão botando assassinos como heróis e militares como facínoras.”
Ele diz que o Brasil precisa ser passado a limpo. “Os militares saíram em 1985 e até hoje vejo matérias na imprensa mentido sobre o que foi aquele período, só p/enaltecer a PTzada”.
No Instagram, o presidente compartilhou uma publicação de um usuário que afirma que: “o jornalismo brasileiro está tentando arrumar picuinhas com as decisões do @jairbolsonaro sobre a educação no Brasil. Esse mesmo jornalismo ignorou completamente isso aqui”. Após a frase, aparecem reproduções de supostas páginas de livros didáticos citando o socialismo, uma foto do que seria o centro de difusão do comunismo em uma universidade federal. Outra imagem é de uma reportagem da revista Veja em que aparece a foto de Che Guevara.
A revisão de livros didáticos como forma de combate a supostas doutrinações de esquerda será um dos focos do governo e tem sido articulada desde antes da posse do presidente e do ministro, Ricardo Vélez Rodriguez. Essa é a principal agendas na área de Educação do governo Bolsonaro.
A Folha revelou nesta quarta (9) que um edital para compra de livros didáticos foi alterado e deixou de exigir das editoras obras com referências bibliográficas e o compromisso com a agenda da não violência contra as mulheres, promoção das culturas quilombolas e dos povos do campo. As obras poderiam ter erros também.
Após a repercussão negativa, o governo soltou nota afirmando que suspendeu a nova versão e que a culpa era do governo Michel Temer. Já o ex-ministro da Educação negou a autoria das modificações.
Depois, o governo instalou uma sindicância com o objetivo de, segundo o MEC, apurar algum erro ou troca de versões. Esse erro teria feito com que o texto que suprimia exatamente esses trechos acabasse publicado, de modo equivocado.
Sexta-feira: 11 de janeiro de 2019
Valor – ‘Não sei o que fazem fora do gabinete’, diz Flávio
Por Cristian Klein | Do Rio
O deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) deixou de comparecer ontem a audiência no Ministério Público do Rio para dar explicações sobre a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão, identificada na conta de seu ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, mas concedeu entrevista sobre o caso ao SBT, exibida à noite. Aos promotores, Flávio Bolsonaro alegou que não teve acesso aos autos da investigação, e, em mensagem publicada no Facebook, afirmou que só teria sido notificado do convite para depor na segunda-feira, 7 de janeiro, às 12h19. Em nota, o MP informou que o procurador-geral de Justiça encaminhou ofício à presidência da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) no dia 21 de dezembro.
Na entrevista à TV, Flávio Bolsonaro afirmou que o escândalo seria uma perseguição política, para “tentar desestabilizar” o governo do pai, o presidente da República Jair Bolsonaro, e repetiu que precisa de tempo e acesso aos autos para dar explicações ao MP. “É o tempo de eu tomar ciência do que é, se tiver que produzir algum documento e levar lá ao Ministério Público, esclarecer e ficar longe dessa coisa, que eu não tenho nada a ver com isso. Vou lá sepultar qualquer dúvida que eles tenham em relação à minha pessoa”, disse.
Ao mesmo tempo, Flávio argumentou que a movimentação atípica apontada pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) pode ser explicada pelos rendimentos de Queiroz como policial militar e assessor parlamentar, além dos depósitos feitos na conta pela mulher dele, Márcia, e pelas filhas Nathália e Evelyn. “Se você pega o salário dele no meu gabinete mais o que recebe na Polícia Militar e mais o que os familiares depositavam na conta dá quase esse valor [de R$ 1,2 milhão]”, disse Flávio.
Para justificar a diferença, porém, Queiroz já alegou que fazia bicos de segurança e vendia carros usados – embora não tenha apresentado ainda os recibos. Flávio afirmou que não “está fazendo a defesa” de Queiroz e disse que ele tem que ir, “o quanto antes”, ao Ministério Público. Mas o ex-assessor já faltou a quatro depoimentos, os dois últimos sob justificativa de que precisa cuidar de um câncer de cólon. Queiroz foi submetido a uma cirurgia para a retirada do tumor no dia 1º, no hospital Albert Einstein, em São Paulo. A mulher e as filhas também faltaram a depoimento no MP, na terça-feira, e a defesa alegou que elas se mudaram temporariamente para a capital paulista para cuidar de Queiroz.
A suspeita é de que a conta do ex-assessor tenha sido usada para Flávio receber parte ou a totalidade dos salários dos funcionários lotados em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio. A conta de Queiroz recebeu depósitos de oito ex-funcionários, entre eles o da mulher e das filhas. Flávio Bolsonaro afirmou que não sabe “o que as pessoas do meu gabinete fazem da porta para fora” e que os casos de movimentações atípicas relacionadas a outros 21 deputados estaduais não têm recebido a mesma atenção. O senador eleito se comprometeu a escolher nova data e horário para depor no MP, uma prerrogativa que tem como parlamentar.