Quarta-feira: 28.11.2018
O Globo – A viagem do chanceler –
Bernardo Mello Franco
O novo chanceler está irritado. Ernesto Araújo não gostou das críticas à sua escolha para o Itamaraty. Nessa ele tem razão. Em geral, as reações foram de preocupação e espanto. Fora da bolha bolsonarista, ninguém esperava ver um militante da alt-right no comando da política externa brasileira.
As críticas deveriam ter convencido o futuro ministro a moderar o tom. Ele escolheu o caminho oposto. Em artigo na “Gazeta do Povo”, voltou a se apresentar como um cruzado contra “pautas abortistas e anticristãs”. Também atacou o “alarmismo climático”, como se os estudos sobre o aquecimento global fossem meros boatos de WhatsApp.
Araújo se aproximou do mundo real ao comentar a repercussão da sua escolha. “Alguns jornalistas estão escandalizados, alguns colegas diplomatas estão revoltados”, constatou. Depois voltou a orbitar o seu mundo particular, onde o “marxismo cultural” estaria por trás de uma trama “para que as pessoas não nasçam”.
Dirigindo-se a um interlocutor imaginário, o novo chanceler julgou necessário informar que não precisa de uma camisa de força. “Quando me posiciono, por exemplo, contra a ideologia de gênero, contra o materialismo, contra o cerceamento da liberdade de pensar e falar, você me chama de maluco”, queixou-se.
Depois ele retomou a pregação contra as Nações Unidas, que o Brasil ajudou a fundar depois da tragédia da Segunda Guerra. “No idioma da ONU, é impossível traduzir palavras como amor, fé e patriotismo”, escreveu.
Enquanto Araújo defende ideias exóticas e bajula o novo chefe, prometendo se guiar por sua “mão firme e confiante”, cresce a sensação de o Itamaraty pode ter papel decorativo em sua gestão.
Ontem o deputado Eduardo Bolsonaro assumiu funções de chanceler e anunciou um regime de metas comerciais para os embaixadores. Os que “não trouxerem resultado”, disse, serão removidos de seus postos.
Em visita a Washington, o filho do presidente desfilou com um boné onde se lia a inscrição “Trump 2020”. A turma ainda não subiu a rampa do Planalto e já quer decidir o próximo ocupante da Casa Branca.
Quarta-feira: 28.11.208
O Estado de S.Paulo: Futuro chanceler afirma que vai ‘libertar o Itamaraty’
Em artigo, Ernesto Araújo diz querer combater o ‘marxismo cultural’ e ‘acabar com a ideologia em política externa’
Rodrigo Turrer, O Estado de S.Paulo
O futuro ministro das Relações Exteriores do governo Jair Bolsonaro, Ernesto Araújo, escreveu em artigo publicado na segunda-feira no jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, que vai “acabar com a ideologia em política externa”, e que o presidente eleito confiou a ele a missão de “libertar o Itamaraty” do “marxismo cultural”.
O novo chanceler afirma que pautará sua atuação pelo combate a políticas que compactuam com o que classifica como “alarmismo climático”, “pautas abortistas e anticristãs em foros multilaterais” e a “destruição da identidade dos povos por meio da imigração ilimitada”.
Araújo diz que para “extirpar das relações internacionais brasileiras a ideologia do PT”, é preciso combater o “marxismo cultural”, que busca controlar não mais os meios de produção material, mas de produção intelectual. “Quando me posiciono contra a ideologia de gênero, contra o materialismo, contra o cerceamento da liberdade de pensar e falar, você me chama de maluco. Mas se isso não é o marxismo, com estes e outros de seus muitos desdobramentos, então qual é a ideologia que você quer extirpar da política externa?”, pergunta ao leitor.nRead invented by Teads
‘Torre de marfim’. No começo do texto, Araújo diz que “parte da imprensa e dos colegas diplomatas” esperava que Bolsonaro escolhesse um chanceler que mantivesse a política externa em uma torre de marfim, “sob a desculpa de que a política externa é algo demasiado técnico para ser entendido por um simples presidente da República, muito menos por seus eleitores”. Alguém que “saísse pelo mundo pedindo desculpas”, alguém responsável por “frear o ímpeto de regeneração nacional”.
Para o futuro chanceler, no entanto, a nova política externa precisa traduzir a “sagrada voz do povo”, entendida como a voz do presidente eleito. Essa voz, segundo Araújo, deve ser autêntica e não “dublada no idioma da ONU, onde é impossível traduzir palavras como amor, fé e patriotismo”.
Adotando o discurso “antiglobalista”, Araújo diz que “em uma democracia, a vontade do povo deve penetrar em todas as políticas”, mas que a “mídia” e a burocracia globalista “que gostam tanto de falar em democracia, não sabem disso. Perguntam-se, assustadas: ‘O que vão pensar de mim os funcionários da ONU, o que vai dizer de mim o New York Times, o que vai dizer The Guardian, Le Monde?’”, escreveu o embaixador.
O futuro ministro defende que o País precisa de “alguém que entenda de ideologia” para acabar com ela no Itamaraty, ao reconhecer suas “causas, manifestações, estratégias e disfarces”. “Vencida na economia, a ideologia marxista, nas últimas décadas, penetrou insidiosamente na cultura e no comportamento, nas relações internacionais, na família e em toda parte”, afirma. “Se você repudia a ‘ideologia do PT’, mas não sabe o que ela é, desculpe, mas você não está capacitado para combatê-la e retirá-la do Itamaraty ou de onde quer que seja. Ao contrário, você está ajudando a perpetuá-la sob novas formas.”
Por fim, Araújo diz que estudou os intelectuais marxistas para poder combatê-los. Segundo ele, não basta dizer “não existe mais ideologia no Itamaraty”. “Ou basta pronunciar ‘pragmatismo’ como uma palavra mágica que se instalará sozinha? Gramsci, Lukács, Kojève, Adorno, Marcuse estão rindo da sua cara. Ou melhor, não estão rindo, porque marxista não tem senso de humor”, finaliza Araújo.
Quarta-feira: 28.11.2081
Folha de S.Paulo – Guru de Bolsonaro diz que não existem intelectuais da esquerda do seu nível
Júlia Zaremba, Washington
Para Olavo de Carvalho, movimento conservador brasileiro está atrasado e mostra ‘inexperiência horrível’
Apontado como guru do presidente eleito, Jair Bolsonaro, e de seus filhos, o escritor Olavo de Carvalho, 71, diz que não existem intelectuais da esquerda do seu nível e que seus detratores não passam de difamadores. “A situação é, assim, intelectualmente catastrófica”, afirmou, durante entrevista concedida à Folha nesta segunda (26).
O autor dos livros “O Jardim das Aflições” (1995) e “O Imbecil Coletivo” (1996) vive em Richmond, capital do estado da Virgínia (EUA), desde 2005. E nem mesmo a vitória de um governo conservador o motiva a voltar para a sua terra natal. “Quero ficar aqui no mato até morrer”, diz.
Para ele, o movimento conservador brasileiro está atrasado e mostra uma “inexperiência horrível”. Novas lideranças e uma “direita treinada” poderiam mudar os rumos do conservadorismo.
Apesar de ter emplacado dois ministros no novo governo (Ricardo Vélez Rodríguez para a Educação e Ernesto Fraga Araújo para o Itamaraty), ele conta que não mantém uma relação próxima com o futuro presidente brasileiro. Mas diz que toparia virar conselheiro dele por “R$ 100 ao mês”.
Também não descarta por completo a possibilidade de se tornar embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Mas isso não o agradaria, segundo ele: “Na embaixada não posso nem fumar meu cachimbo, porra!”. O escritor conta que indicou outra pessoa para o posto, mas não quis revelar o nome.
Usuário ativo de redes sociais —em uma delas, acumula mais de 500 mil seguidores—, Carvalho elogia a estratégia de comunicação da campanha de Bolsonaro com os eleitores: sem intermediários, inspirada na usada pelo presidente americano, Donald Trump.
Avalia, contudo, que a campanha do presidente eleito foi um caos, sem coordenação. O que não foi, necessariamente, ruim. “O que aconteceu foi uma colaboração popular espontânea”, afirma.
A imprensa está entre seus alvos preferenciais. Afirma que a opinião conservadora foi banida dos jornais e que ninguém pode falar em Deus sem ser chamado de fundamentalista pela mídia.
Critica ainda o movimento Escola sem Partido (por ter sido proposto antes da realização de uma pesquisa que comprove a hegemonia da esquerda nas instituições de ensino), a educação sexual nas escolas (que incentiva “mais putaria”), os “gayzistas” (que, segundo ele, querem impor seu modo de ser aos outros) e a ideia de aquecimento global.
O sr. tem sido descrito como o guru de Bolsonaro e emplacou dois ministros no novo governo. Tem mantido contato com o presidente eleito? Como é sua a relação com ele?
Minha relação com ele é, literalmente nenhuma. Eu tive um hangout (conversa por aplicativo) com ele. Conversei com ele por telefone três vezes, com o filho umas duas ou três, dois deles estiveram aqui por algumas horas. Isso foi tudo.
Como foi a conversa com Jair Bolsonaro?
Nem lembro mais do que conversamos. Mas foi uma conversa muito boa, muito simpática. Desde 2014, eu vi que Bolsonaro era um dos dois ou três deputados que não estavam metidos em corrupção. Eu disse: voto nesse cara para qualquer cargo que ele se candidatar. Se para presidente, então vai ser presidente.
Em entrevista à Folha no ano passado, o sr. disse que um dos filhos de Jair Bolsonaro pediu um aconselhamento antes das eleições.O que disse?
Primeiro, que tem que centrar na segurança pública. Temos que garantir que brasileiros que saem para a rua para trabalhar vão voltar vivos. O resto pode ficar para depois. Se fizer um governo de merda do começo até o fim, mas resolver esse problema, acabar com 70 mil homicídios ano, você já é herói nacional.
O sr. chegou a indicar algum dos dois ministros diretamente para Bolsonaro?
Sim. Coloquei no Facebook, creio que coloquei também na área de mensagens do Eduardo Bolsonaro (em rede social). Foi tudo. Eu sei que o Bolsonaro lê as minhas coisas e a gente está vendo que leva bastante a sério. Eu fico muito lisonjeado com isso.
Pretende sugerir mais algum nome para o novo governo?
Eu não. Já esgotei meu estoque de ministros. Sugeri esses dois simplesmente porque me ocorreu na hora. Sugeri o ministro da Educação porque o Bolsonaro, em um discurso, disse que iria me convidar para ministro da Educação. Não quero ser ministro, então indico alguém. Então rejeitei e indiquei o Ricardo Vélez Rodriguez, que é pessoa altamente capacitada.
O sr. sinalizou que gostaria de ser embaixador brasileiro nos Estados Unidos.
Não, não. Eu nunca disse que gostaria. Disse que, se me convidassem, o único cargo que eu poderia aceitar seria o de embaixador. Caso, é claro, não houvesse pessoa outra mais qualificada. Acabei até sugerindo um nome. Não vou dizer quem, é porque não foi divulgado ainda.
Mas o sr. chegou a receber algum convite para ser embaixador?
Não. Me ofereceram dois ministérios, da Educação e da Cultura. Eu rejeitei os dois. Se fosse para aceitar um cargo público, o único que eu aceitaria seria esse. Por quê? Motivo muito simples, eu odeio isso, isso para mim seria a minha morte. Mas o Brasil precisa de dinheiro. E onde é lugar para buscar dinheiro? É aqui, porra!
Por que seria tão ruim assumir o cargo?
Não sirvo para esse negócio de ser burocrata. Na embaixada não posso nem fumar meu cachimbo, porra! Esse cargo é para gente que tem cara de pau, que gosta de encenar papéis. Eu não. O único cargo que eu posso exercer é o de Olavo de Carvalho, tá entendendo?
Espera manter relação próxima com o presidente? Aconselhando, talvez?
Depende dele. Se me quiser como conselheiro, eu viro conselheiro e cobro R$ 100 por mês.
O deputado Eduardo Bolsonaro está nos Estados Unidos nesta semana para estreitar as relações entre Brasil e EUA. Pretende se encontrar com ele?
Não pretendo. Ele está em Washington, eu odeio ir para Washington. Aliás, eu odeio sair aqui da minha casa (Olavo vive em Richmond, no estado da Virgínia). Sou do mato, não da cidade.
Um dos motivos que o levou a sair do Brasil foi a chegada do PT ao poder. A eleição de Jair Bolsonaro o motivou a voltar? Não, preguiça. Tenho 71 anos, o que vou fazer aí? Quero ficar aqui no mato até morrer, sossegado.
As eleições resultaram em uma onda conservadora. Em uma entrevista em 2016, o sr. afirmou que seus livros ajudaram conservadores a sair do armário. Acredita que influenciou de alguma forma a situação política atual no Brasil?
O que eu fiz foi o seguinte: arrebentar com a hegemonia intelectual esquerdista em algumas áreas do país. Isso eu fiz basicamente com dois livros, na verdade, três: “A Nova Era e a Revolução Cultural”, “O Imbecil Coletivo” e “O Mínimo que Você Precisa Saber para não Ser um Idiota”. Esses três livros provocaram um furor no meio esquerdista, mas nunca foram respondidos à altura. No mundo, a intelectualidade esquerdista também caiu. Sobraram só dois que pensam, que são David Harvey e o Antonio Negri. Como a intelectualidade brasileira é dependente do exterior, a queda da intelectualidade esquerdista internacional provocou o fim da intelectualidade esquerdista brasileira.
O sr. acredita que exista algum intelectual de esquerda à sua altura no Brasil?
Mas nem pensar! Não existe. Não é que não está à altura minha, não está à altura dos meus alunos. A situação é assim, intelectualmente catastrófica. E à medida que a inteligência cai, sobem os maus instintos. A raiva, o nervosismo, o desejo de vingança, todo um quadro de sintomatologia neurótico e até psicótico.
Em quais aspectos o sr. acredita que é mal compreendido pelos críticos?
Não tenho nenhum crítico, crítico é o sujeito que examina e analisa as ideias do outro, nunca nenhum cara da esquerda fez isso. O que fazem, como [o jornalista] Gilberto Dimenstein, é pegar frase solta —que ouviu em programa de rádio, olhou no Facebook— mudar o sentido, mudar a construção da frase, para dar sentido imbecil. Não tenho críticos, só difamadores na esquerda brasileira.
O sr. é um crítico do Foro de São Paulo, que reúne partidos e organizações de esquerda. Como vê a Cúpula Conservadora das Américas, criada por representantes da direita latino-americana?
Eles estão criando resistência conservadora com 28 anos de atraso. E sem a ajuda da mídia. O Foro de São Paulo jamais teria chegado a existir e crescer sem a cumplicidade da mídia. A começar pela Folha de S.Paulo, que manteve o Foro em segredo por quase 18 anos. Escuta, quando houve na América Latina outra organização que congregasse quase 200 partidos políticos e mais de uma dúzia de chefes de Estado? Isso é um nada? Um clubinho de fim de semana? A mídia inteira acobertou esse imenso crime. A mídia brasileira é criminosa. Todas essas organizações são criminosas.
O sr. considera todo o trabalho da mídia criminoso?
Claro que todo o trabalho, não. Existe algum criminoso que na vida só cometa crime? Não faz sentido. O maior criminoso do mundo também toma banho, faz cocô, faz compras para a família, dirige automóvel. Nada disso é criminoso. A Folha também faz coisa que não é criminosa.
Criminalizar a mídia não pode enfraquecer a democracia?
Não. Democracia começou a ser praticada agora. Como é possível um país com 60%, 70% de cristãos e conservadores não existir um partido conservador, uma rádio conservadora, um jornal diário conservador, uma universidade conservadora, nada? Todos os canais foram tampados pela esquerda. Acha que isso é democracia? É ridículo. É tirania. Sistema de manipulação. Agora acabou. Agora começamos a ter democracia. Ninguém vai impedir vocês de falar. Se impedissem, eu seria o primeiro a combater. Pode falar o que quiser, agora, tem que ser responsável pelo que diz. Vai instaurar censura? Eu sou 100% contra, combateria censura até o fim.
Como resolver a situação?
Aparecerem novos órgãos de mídia, que possam concorrer com esses aí, dar voz a quem nunca teve. A opinião conservadora foi banida. Hoje no Brasil ninguém pode pronunciar a palavra Deus sem ser chamado de fundamentalista ou obscurantista por praticamente toda a mídia.
Qual pode ser o impacto do novo governo no movimento conservador?
Provavelmente a destruição desses corruptos, que são os esquerdistas, deve animar um pouco os conservadores, mas eu não sei se isso vai acontecer. Na verdade, em vez de esperar que governo anime os conservadores, são os conservadores que têm obrigação de se reunir para dar apoio ao governo.
O movimento conservador no Brasil falhou?
Não sei. Não tenho capacidade para julgar. Negócio está começando, é cedo. Porém, o fato é que ele faz tudo muito atrasado. E às vezes vai com inabilidade, com inexperiência horrível. A direita é a posição majoritária da nação brasileira, e isso foi demonstrado na eleição de maneira mais do que suficiente, mas você não tem uma direita treinada. O pessoal da direita acordou agora. Foi apenas a opinião popular que se manifestou. Mas não tem ainda lideranças suficientes.
Como poderia melhorar?
Começa a formar uma intelectualidade capacitada. Depois, talvez, apareça classe política. Mas os acontecimentos se precipitaram e o povo elegeu um governo conservador. Antes de tudo isso. Não temos nenhuma intelectualidade pronta. Para não dizer nenhuma, eu formei aí algumas 15, 20 pessoas. Precisava ter cem vezes mais do que isso. Agora, organização não tem nenhuma. A própria campanha do Bolsonaro foi um caos.
Por que considera que a campanha foi um caos?
Eu acompanhei a coisa. Aquilo não tinha coordenação nenhuma. Não tinham dinheiro para fazer campanha. O que aconteceu foi colaboração popular espontânea. Através da internet, WhatsApp, Twitter, sem ganhar nada. Eu mesmo fiz. Vou votar nesse cara, recomendo que façam o mesmo. Eu botei um montão de vezes, milhões de pessoas fizeram isso, e isso foi a campanha Bolsonaro, a primeira campanha popular da nossa história.
Como o sr., que foi um dos primeiros intelectuais a investir na comunicação direta com o público, avalia a estratégia de comunicação da família Bolsonaro com o eleitorado?
Tem que ser assim. Se a mídia não nos dá espaço, temos que abrir o nosso próprio espaço. Hoje eu tenho mais leitores do que qualquer órgão da grande mídia no Brasil, através do meu blog e Facebook. Isso é tudo. Se fosse esperar espacinho na mídia, estaria esmolando na porta até hoje.
O presidente não tem espaço na mídia?
Agora são obrigados a dar algum espaço. Porém a tempestade de informação que cai em cima dele, dos ministros dele, em cima de mim, como se eu fosse autor do governo Bolsonaro, é uma coisa gigantesca, que mostra a total inconformidade da mídia com um governo de direita.
Como classifica o governo Bolsonaro?
Espero que seja governo conservador. O que caracteriza conservadorismo nos lugares onde há uma tradição conservadora? Primeiro economia de livre mercado. Em segundo lugar, a moral judaico-cristã, que aceita grupos minoritários, mas não aceita que ditem normas para a maioria, não pode. Tem espacinho deles lá no canto, mas não queiram mandar na maioria. Como fazem hoje. Terceiro lugar, lei e ordem. A lei existe para ser cumprida e lugar de bandido é na cadeia, ponto final.
Quais seriam esses grupos minoritários querendo ditar normas?
Gayzistas, em primeiro lugar. Hoje em dia tornaram obrigatório achar lindo a relação homossexual. Já leu Graciliano Ramos? Certamente não era um reacionário. Em livro de memórias, conta que tinha nojo físico de homossexual. O que pode fazer para controlar isso? Tem que calar a boca? É um criminoso porque sente isso? Não tem direito de sentir? Eu não sinto isso, pessoalmente, sou um anarquista. Não me escandalizo. Se tem emoção que não tenho é escândalo. Pode viver a sua vida sexual do jeito que quiser. Outra coisa é querer impor como valor universal perante o qual todos têm que se ajoelhar.
Quem está impondo como valores? Não se trata de liberdade?
A mídia inteira propaga essa mentira idiota de que existe genocídio antigay no Brasil. Quando você vai ver, quantos homicídios de gays tiveram? Duzentos e poucos, cento e poucos. Em país que tem 70 mil homicídios por ano. Provando que o fenômeno não existe, mas continuam a fazer todo mundo se sentir culpado. Você é virtualmente um genocida.
Em 2017, um levantamento realizado por uma organização que defende os direitos dos homossexuais apontou um recorde de mortes por homofobia no Brasil: 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) foram mortos.
Não, não. Lesbocídio já foi totalmente desmascarado, isso é falso. Muitas morreram em tiroteio, outras traficando drogas, outras mortas por suas parceiras que certamente não eram heterossexuais, e assim por diante. E mesmo 400, o que são 400 em lugar com 70 mil por ano.
Não acredita que exista crime motivado por orientação sexual?
Pode haver, mas isso é raridade. Evidente que só psicopata fará um negócio desse. Matar um cara porque é homossexual? Pelo amor de Deus! Eles querem dizer que a sociedade é homofóbica. Mas quando vai ver, número de gays mortos por garotos de programa que são eles próprios gays é imenso.
Jair Bolsonaro chegou a afirmar para uma revista que seria incapaz de amar um filho homossexual. O que o sr. pensa dessa declaração?
Olha eu nem acredito que ele pense seriamente nisso, ele falou em momento de fraqueza. Sabe como é repórter, provoca, provoca até você dizer enormidade. Já fizeram comigo, quanto mais não vão fazer com ele. Atitude em si é sinceramente absurda. Mesmo que filho tenha todos defeitos do mundo tem que continuar amando.
O sr. defende que a normalidade democrática é a concorrência “efetiva, livre, aberta, legal e ordenada” entre direita e esquerda. Mas em entrevista à Folha, em 2013, afirma que alguns tipos de esquerda “devem ser expulsas da política e dos canais de cultura”. Acredita que o mesmo deve acontecer com alguns setores da direita? Quais?
Existem ainda os remanescentes dos tempos dos militares, espécie de direita truculenta. Mas eles não têm expressão cultural. São estudantes, comerciantes da esquina, uns zé manés. Nas manifestações de 2013, 2015, apareceram alguns tipos, mas muito poucos e irrelevantes.
Quais seriam os grupos da direita truculenta?
No meio intervencionista, muita gente. Falavam que tinha que matar, começavam com histórias. Claro que são doidos. Não são pessoas que vão realmente matar alguém. Nunca quebraram um nariz de comunista, ficam em casa fazendo homicídios eletrônicos, irrelevantes. Não há periculosidade nessa pessoa. Eu mesmo recebia mensagens. Ficaram loucos da vida comigo quando disse que um golpe militar seria simplesmente impossível, que os militares não o fariam. Até me ameaçaram de morte. Isso foi entre 2013 e 2015.
O sr. afirmou que o novo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, tem sido avaliado de forma pueril. Quais ideias e propostas dele o sr. acredita que não estão recebendo o devido destaque?
O pessoal diz, ah, pode ter diploma, mas é direitista. É direitista sim, mas é governo de direita. Eles não querem cara que é de direita, não pode ter ministro direitista, governo direitista. Essa é uma ideia pueril. Por isso que a democracia vai ter que aceitar o rodízio de partidos no poder. Ele até o momento, que eu saiba, concentrou a sua atenção no problema da alfabetização. Ele sabe que sistema de alfabetização adotado no Brasil por força da esquerda vai ter que mudar. O método sócio-construtivista só forma analfabetos e provoca até lesão cerebral. Tem que voltar ao velho método fônico, beabá, como era nos anos 60, 70. Tem que voltar já. Não sei como ele vai fazer isso. Esse é um ponto. Se ele fizer isso, salvou o Brasil.
O sr. critica o Escola sem Partido e defende que haja um debate científico que quantifique a hegemonia comunista no ensino antes que sejam tomadas ações. Como fazê-lo, na prática?
No começo dos anos 90, sugeri a empresários, instituições militares, instituições de cultura, várias vezes, uma pesquisa vasta sobre a dominação comunista nas universidades e na mídia. Ninguém prestou a menor atenção. Por exemplo, nas universidades, o que tem que ser feito é um recenseamento das teses de mestrado e de doutorado apresentadas nas áreas de filosofia, letras e ciências humanas. Ali já vai ver influência comunista maciça. E ver ao longo dos anos a deterioração na qualidade das teses. Além do recenseamento, fazer várias técnicas cruzadas, inclusive pesquisa de opinião, de eleitorado, da votação.
O novo ministro apoia o Escola sem Partido. Pretende aconselhá-lo de alguma forma sobre a questão?
Eu não saio dando conselho para ninguém, só respondo o que me perguntam. Se o pessoal do Escola sem Partido [entenda a proposta do Escola sem Partido] quiser os meus palpites, eu lhes dou. Se não quiserem, quiserem continuar fazendo do jeito deles, que façam. E ministro também está ali para fazer as coisas do jeito que quiser. Eu não sou desses intelectuais ativistas, assanhados para influenciar o curso das coisas.
Mas nos anos 90 sugeriu a proposta para outros. Por que não agora?
Eu não tenho dinheiro para fazer a pesquisa. Precisa de pelo menos 30, 40 pesquisadores para fazer isso, meu Deus do céu. Se pudesse fazer sozinho já teria feito.
Mas acha que não vale nem sugerir isso para o novo ministro?
Agora é tarde, porque em primeiro lugar todo o pessoal da esquerda já está alertado e podem simplesmente falsificar os dados. Ainda vale a pena fazer, mas com esse risco.
O sr. diz que “não existe caminho das pedras. O Brasil só pode ser melhorado cérebro por cérebro”.
O Brasil precisa acumular experiência. O povo precisa acumular experiência. Por isso sou muito a favor de o governo consultar o povo. Precisamos acabar com história de elite pseudointelectual que acha que sabe tudo. Boa parte está na mídia. Precisamos dar voz ao povo, chance de decidir a sua vida.
A solução seria uma democracia plebiscitária, por exemplo?
Não sei se uma solução, mas acho que uma coisa saudável. Não sei se coisa formalmente publicitária como plebiscitária, mas acho, sim, que governo tem que aprender a ouvir o povo. Coisa que nenhum governo fez, absolutamente nenhum. Todos vieram com soluções prontas que interessavam sobretudo ou aos seus partidos ou grupos de interesses econômicos.
O que o sr. pensa sobre educação sexual nas escolas?
Quanto mais educação sexual, mais putaria nas escolas. No fim, está ensinando criancinha a dar a bunda, chupar pica, espremer peitinho da outra em público. Acham que educação sexual está fazendo bem, mas só está fazendo mal. O Estado não tem que se meter em educação sexual de ninguém.
Como trabalhar nas escolas com a prevenção da gravidez precoce, DSTs e abusos sexuais?
Sou professor de matemática e aparece aluna minha grávida. O que eu tenho com isso? A mãe e pai dela que resolvam, meu Deus do céu.
Mas aí não seria matemático ensinando, mas outro professor, como um psicólogo ou educador sexual.
Não, educadores sexuais são os piores. Vêm com mil teorias mirabolantes e sempre têm agenda secreta. Estado não tem que se meter na educação sexual de ninguém. Nunca se meteu na minha, graças a Deus nunca me deu uma porra de educação sexual e não me fez falta nenhuma.
O que fazer no caso de famílias disfuncionais, de jovens mais carentes?
A sociedade se organiza para isso. Aqui nos Estados Unidos, todo mundo faz trabalho voluntário para alguma entidade. Todo mundo. Para chegar a precisar do governo, só em último caso. Primeiro procura ajuda no bairro dele, na rua, na igreja, nos clubes. Agora, temos que educar a sociedade brasileira para ser solidária, ajudar uns aos outros. Já dizia Santo Agostinho, a base da sociedade humana é o amor ao próximo. Não é sacanear o próximo. Pensam que governo é super-homem, que vai resolver tudo? Não pode, pô. A sociedade que precisa resolver.
Mas ao falar para a sociedade resolver, não estaria sendo um pouco otimista?
Não, não espero que isso se faça rapidamente. Sei todas as dificuldades. Mas vejo o seguinte: se vir os defeitos das minhas próprias ações que mudaram totalmente o panorama cultural e político em 20 anos. Se eu que sou zé mané fiz tudo isso, outras pessoas também podem fazer coisas grandes. Pessoas que tenham coragem, lancem grandes projetos, vão em frente, não fiquem esperando o governo fazer.
O sr. conheceu o novo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Fraga Araújo, há cerca de um ano, correto?
Mais ou menos um ano. Um amigo veio aqui e o trouxe. Era um cara que queria conhecer. Comecei a ler artigos dele no blog, fiquei muito impressionado com a cultura do cara, que vai muito além da média dos diplomatas brasileiros. E da mídia, nem se fala.
O novo chanceler escreveu em um blog que “quer ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista”. Acha que esse é o caminho?
Mas é claro, tem que fazer isso amanhã. Esse negócio está ferrando com o mundo, um bando de louco presunçoso. Junta lá 200 banqueiros que acham que porque são cheios de dinheiro são todos gênios e que têm a solução para os problemas do mundo. Se acompanhar ao longo do tempo o diagnóstico que esses caras faziam, e soluções que propunham, vê que são todos idiotas, endinheirados, presunçosos. Nos anos 70, 80, pelo Clube de Roma, tinham uma tese assim: em cinco anos, todas as estradas do mundo estarão congestionadas e não haverá mais trânsito. Portanto nós temos que parar de fabricar automóveis agora. Os caras vêm com essa pseudociência, com estupidez do aquecimento global, do peido da vaca.
O senhor não acredita aquecimento global?
Claro que não, nem que exista, quanto mais causado por seres humanos. Há 17 anos não se constata nenhum aumento de temperatura. Como aquecimento global para por 17 anos?
Um levantamento de que aquecimento global pode superar 1,5 grau Celsius até 2040. Acha que não é verdade?
Poderia, no futuro. Falo coisas que acontecem, não que podem acontecer. Igual à polêmica que fazem com Bolsonaro. Viu o número de crimes futuros que atribuem ao Bolsonaro? Não crimes passados. Passado é Lula, turma do PT, a imprensa. Inventam que Bolsonaro vai cometer crime no futuro. Aquecimento global não conseguiram provar que existe. O tempo em que se podia confiar nas instituições de ciência já acabou. Nos últimos 30, 40 anos, o que teve de corrupção na área da ciência é uma coisa terrível. Eu, por via das dúvidas, não confio em cientistas com menos de 60 anos.
A Organização Meteorológica Mundial afirmou que 2017 foi, junto com 2015 e 2016, um dos três anos mais quentes desde 1880. Possível que tenha três ou quatro anos mais quentes, mas na curva geral, não há aquecimento global nenhum. A temperatura sobe e desce. Vamos aguardar os anos seguintes para ver o que acontece.
O que podemos esperar da política externa do novo chanceler?
Esperar não sei, só desejar. Espero que saiba lidar com problema com devida habilidade. Porque ao sair chutando o pau da barraca e fazendo guerra ao globalismo, você se dana. Tem que ir devagar e com muito cuidado, preservando as parcelas de soberania que nós ainda temos. Tem que aprender a negociar, fazer o que o Trump está fazendo aqui. E insistir mais nas relações bilaterais do que nos acordos multilaterais que amarram o país.
O sr. disse que liberalismo virou extrema direita. O que classifica como extrema direita?
Por exemplo, o Ricardo Vélez Rodriguez. Um monte de gente da mídia escreveu que o homem é de extrema direita. Mas ele é um liberal clássico. Como liberal clássico pode ser de extrema direita? Eu não classifico nada como extrema direita. Acho que negócio de extremo é prova de burrice. As correntes políticas não estão em escala como essa da mecânica dos fluidos. Quando sobe lado, baixa outro. Não é assim.
Como o sr. classificaria Jair Bolsonaro?
Ainda não sei. Sei que é um sujeito de alma conservadora. Apegado à moral cristã, à lei e ordem, são elementos conservadores, mais consentimentos conservadores do que ideologia conservadora. Ideologia acho que não tem nenhuma.
Por que não?
Não tem doutrina. Ideologia pressupõe sempre uma doutrina organizadíssima, do começo ao fim. O pessoal não sabe o que é ideologia. Uma ideologia é um sistema de pensamento inteiramente coerente do princípio até o fim. É fórmula pronta para ser decorada e aplicada. Isso aí o Bolsonaro não tem. Como eu também não tenho. Temos que nos contentar com as ideologias inventadas e projetadas para cima de nós por vigaristas.
Quarta-feira: 28.11.2018
Balaio do Kotscho: GENERAIS, DEM, BANCADAS BBB, FILHOS, TEMER E GURU ALOPRADO: EIS A CARA DO NOVO GOVERNOemDe 20ho
“Voltamos a ser um país atrasado de um povo atrasado” (Janio de Freitas).
“Ministério MM: só tem milico e maluco. Ou é conservador ou é cristão século 11” (José Simão).
***
Só faltou um M, caro Macaco Simão: de malaco. Também tem vários no elenco.
Após um mês frenético de transição (ou será transação?), já dá para ver como será a cara do novo governo.
Fora os superministros Paulo Guedes e Sergio Moro, que correm em raia própria, sem dar bola para o capitão, o que resultou até agora foi um ministério que, com boa vontade, pode ser chamado de escalafobético.
Ali se misturam generais de pijama; parlamentares do velho DEM (ex-Arena); refugos do governo Temer; os pentecostais, pistoleiros e latifundiários das bancadas BBB (boi, bala e bíblia); ultra neoliberais do Posto Ipiranga, um ex-juiz no papel de xerife e os ministros indicados pelo guru aloprado Olavo de Carvalho, o “filósofo” caçador de ursos e grande mentor da nova ordem.
Com este zoológico ministerial, que remonta a tempos imemoriais, não deveria espantar ninguém que o capitão reformado aos 33 anos, agora eleito presidente da República, bata continência ao receber em sua casa, logo cedo, na manhã desta quinta-feira, no bunker da Barra da Tijuca, um assessor de Donald Trump, John Bolton, conhecido como “senhor da guerra”.
Esta semana, seu filho Eduardo, deputado e escrivão de polícia, autonomeado embaixador plenipotenciário do país nos Estados Unidos, já tinha posado fagueiro e feliz, em Washington, com um boné de Trump 2020. Qual é a surpresa?
Brasil acima de tudo e Deus acima de todos? Pois, sim…
Que Brasil é esse em que um governo se humilha desse jeito antes mesmo de tomar posse?
O deslumbramento do herdeiro deputado em seu périplo pela matriz é a síntese, o retrato acabado de um governo disposto a fazer do Brasil novamente simples colônia, um pária global.
Ao desistir de sediar a Conferência do Clima, marcada para o próximo ano no Brasil, e abrir baterias contra o Acordo de Paris, Bolsonaro já escancarou sua submissão ao império trumpiano.
Por falar em império, lembrei-me de um jantar, durante a campanha eleitoral de 2002, em que Lula e seu vice, o empresário José Alencar, foram a um jantar com Olavo Setúbal, o lendário patriarca do banco Itaú.
Toda vez que os dois candidatos falavam no que pretendiam fazer, caso fossem eleitos, Setúbal reagia com a mesma frase e sua voz de trovão, desdenhando deles:
“O império não vai deixar!”
Até que uma hora, Alencar, um grande empresário multinacional de Minas, perdeu a paciência, e retrucou:
“Que império é esse, doutor Olavo?”.
Diante da inocência do convidado, o banqueiro subiu nas tamancas:
“Ora essa, que império? O grande império americano, você não sabe?”.
José Alencar deixou de lado seu jeito maneiroso de mineiro do interior e também ergueu a voz:
“Pois fique sabendo, doutor Olavo, que se isso acontecer nós vamos pegar em armas e defender o Brasil”.
Até Lula tomou um susto.
Afinal, na parceria capital-trabalho formada pelos dois para a eleição que os levou à vitória em 2002, os papéis agora estavam invertidos.
Lula era, até então, o metalúrgico radical e, Alencar, o empresário moderado escalado para acalmar os mercados.
Governaram o país por oito anos e recolocaram o Brasil no papel de destaque que lhe cabia no mundo, respeitado até pelo império americano de Barack Obama, de quem Lula viraria amigo de infância. Eram outros tempos.
Assistimos agora a um filme de época, em branco e preto, rodando ao contrário, até aquele tempo do doutor Olavo, em que o Brasil beijava as mãos e se ajoelhava diante dos poderosos do mundo.
Se não fosse tudo real, diria que estamos vivendo um pesadelo coletivo sem dia nem hora para acabar.
E ainda faltam 33 dias para a posse.
Vida que segue.
Em tempo: viajo amanhã para um retiro espiritual no interior de São Paulo, perto das montanhas da Serra da Mantiqueira, na esperança de me desligar um pouco deste trem fantasma que avança sobre nós. Segunda-feira, vai começar tudo de novo.